Amizade entre a filosofia e educação
Introdução
Este
trabalho tem a ver com a leitura e reflexão do texto deste autor (Luiz
Roheder), no que concerne a “amizade entre a filosofia e educação”. Aqui, duma
maneira direita ou endireita, queremos debruçar em torno daquilo que se chama
relação da filosofia com a educação, mas não se pode confundir com a filosofia
da educação. Iremos descobrir que, estes dois termos, no processo do ensino
aprendizagem são indissociáveis, elas tem de se acompanhar porque parece ter
mesma função, mas nem chega de ser completamente isso. Isto é, a filosofia e pedagogia
pretende moldar no indivíduo, o modo, método de aprender a pensar, a conhecer,
a ser criativo, e pensar por si próprio. Então, estas atitudes buscam-se nos
“traços filosófico-pedagógico do diálogo platónico; amizade enquanto postura filosófico-pedagógico;
o ouvir como condição da amizade, da filosofia, da pedagogia; pestes da
amizade, da filosofia e da pedagogia.” Na verdade, de verdade, o que se precisa
saber é que, concomitantemente o que é que as duas cadeiras contribuem no
processo de ensino aprendizagem. Saber onde recai esta amizade no seio do
processo ensino-aprendizagem. Conhecer também a convergência e divergência
destes termos (filosofia e educação).
Amizade entre a filosofia e
educação
Ao
reflectir sobre a educação, de ponto de vista filosófico e vice-versa,
voltamo-nos as origens da filosofia, de pedagogia e, mais especificamente, ao
género literário do diálogo desenvolvido por Platão. Desfazemos isso não só
para mostrar que o processo de ensino - aprendizagem não se fundamenta
virtualmente nem se reduz a mera transmissão de conteúdos, em plantão a ênfase
do processo filosófico - pedagógico recai sobre o modo, método de ensinar - aprender
a pensar, a conhecer, a ser criativo e pensar por si próprio. Nossa reflexão
filosófica tem, também, como fio condutor, a afirmação de Gadamer segundo a
qual “educação é educar-se - formação é formar-se” .
Traços filosóficos, pedagógicos
constituintes do diálogo platónico
No Górgias, Sócrates afirma que o acordo com
seu interlocutor cálicles constitui uma garantia da verdade a cerca do que foi acordado,
sendo escusado submeter a sucessivas e infinitas provas acerca do mesmos, uma
vez que nela se dão as três condições exigidas a um interlocutor crítico
plenamente qualificado: o saber, a boa vontade ou benevolência, e sinceridade -
decisão para falar (Platão, 1989,p.486e-487a). Neste dialogo, no qual se
encontra estas condições para exercício e efectivação do dialogo, “põe de
manifesto que o acordo consigo mesmo, a consistência ou coerência pesoal,
constitui, para Sócrates, um principio, uma regra fundamental, de
racionalidade” (Matinez. In:Gómes: Castro, 1998, p. 337) que não foi mantido
nem por Górgias nem por Pô-lo em suas discussões previas, nesta proposta
platónica, deve haver uma coerência entre o nível argumentativo – lógico e o
nível de vivencia - pragmático.
A
ideia de acordo que rege o dialogar socrático comporta três aspectos
relacionados entre si: “o acordo dialógico interpessoal, o acordo lógico - teórico
consigo mesmo é o acordo pragmático -moral entre o qual alguém afirma (e acorda
no dialogo), e modo em que alguém vive e actua. As três formas partem da
normatividade da razão, todas elas respondem conjuntamente ao que poderíamos
caracterizar como “vontade da verdade”.
Platão
no dialoga Criton, desenvolveu o carácter normativo do acordo racional que deve
ser mantido. Acordo que se constitui de traços de um pacto, ao se afirmar um
compromisso -reconhecido e assumido pelo parceiro do diálogo - em que pode exigir
fidelidade mútua e para com suas afirmações, neste dialogo, o acordo se
manifesta e se realiza em dois níveis distintos: ‘nunca é bom nem cometer injustiça
nem responder a injustiça com a justiça’: ‘a que fazer as coisas que se tem
acordado com alguém que são justas’. No mesmo diálogo, se assinalar como
condições de validez de acordo que não deve ser “assumido nem sob coação, nem
sob engano, nem com premência”.
A
concepsão socrática do diálogo deveria ser tomada em conta hoje em relação ao
problema da normatividade da razão pedagógica. Talvez nada seja tão actual
quando as condições de sua constituição, a saber, sinceridade e boa vontade,
pautado pela regra do não contradizer-se. A não-contradicão, enquanto norma
racional universal do diálogo, refere-se tanto ao plano discursivo quanto a
existência, e se justifica quando os parceiros do mesmo compromete-se no
discurso.
Amizade enquanto postura filosófica,
pedagógica.
Talvez
soe, a principio estranho e até demagógico, falar da amizade e sua relevância
para filosofia e para a pedagogia, principalmente se as consideremos como uma actividade
‘cientifica - profissional’, com o escopo de transmitir conteúdo e cujas pontas
encontra – se - ai, por um lado que os conhece e manipula e, noutro, que os
desconhece e cuja tabula rasa deveria ser preenchida.
Faz-se
mister, inicialmente, justificar, a retomada da amizade estática ou
benevolência como condição do diálogo platónico e seu desdobramento prático da
amizade em Aristóteles aprofundaremos, em primeiro lugar, esta última, porque
nele encontramos uma espécie de guarda-chuva que reúne e projecta muitas das
principais condições – exigências da postura filosófica autêntica com relação
ao pensar e ao conhecer que pressupõe e a conduz a ética eudaimónica. O segundo
motivo deve-se ao facto de que pretendemos resgata-la como tema filosófico
actual e pertinente para nosso discurso filosófico e pedagógico, ao justificar
a implicação necessária - tal como Aristóteles desenvolveu -para nossos dias.
Entre ética e política.
Ouvir c0mo condição da amizade, da
filosofia, da pedagogia.
A
actividade filosófica no diálogo não se esgota nos processos de comunicação de
escrever, do falar, do ditar, do copiar, do representar. Na opinião de Gadamer
, cada escrito, “para ser compreendido, requer uma espécie de transito ao ouvir interior” e a seus alunos costumava
dizer: “ deveis aguçar o ouvir, haveis de saber que quando levas uma palavra a
boca não utilizais a vontade um ferramenta qualquer que, se não vos serve, lançais
ao canto, mas que na verdade vos tem terminado é uma direcção de pensar que vem
de longe e que vai muito alem de vos”. Condição central da possibilidade da pergunta
dialógico é a unidade entre ouvir e dizer, que não se reduz ao intercâmbio informativo.
O todo no diálogo é condicionado e emerge da tensão unitário entre ouvir e
falar, perguntar e responder, que ocorre entre os parceiros de um diálogo ou
entre o educador e educando.
Certamente,
“quando falamos de ouvir e olhar em relação ao ler, não se trata de que seja
precise olhar para poder decifrar o escrito que se precisa ouvir o que o
escrito diz. Poder ouvir significa poder compreender”(Gadamer, in gw8, p.272)
as relações entre ouvir e olhar “rolam no ser humano desde sempre sua distinção especial. Pois ouvir não
significa escutar mas ouvir significa ouvir palavras”.(id. P.271). face a restrições
do olhar objetificador das “ciências ‘cartesianas’.o diálogo exige o ouvido como
seu órgão mediatizador por excelência. Isto é, seu principal sentido, abrindo
assim um novo espaço para compressão não apenas dos factos objectivos mas,
também, do próprio homem que esta envolvido na criação destes factos”.
Há
um limite, um término para o ouvir no dialogo? O ouvir é ilimitado e requerido
como dimensão constitutiva do diálogo deste momento que emerge um acordo um
determinado consenso e os parceiros se dão por satisfeito com o seu dialogar,
ate mesmo quando ao final, tenha posições claramente contrarias.
Irredutível
a linguagem apofantica, o diálogo hermenêutico é o que melhor mostra e
possibilita o acontecer da autêntica postura filosófica - pedagógica, pois conduz
do monólogo, da razão anónima e absoluta, a medição finita e histórica do saber
humano.
O
sentido, o acordo, a pergunta, a história, a linguagem, a experiencia constituem
objectos do diálogo filosófico - pedagógico, mas é o sujeito em questão o
‘objecto’ principal. Por isso, nela não podemos pré-dominar os seus resultados,
mas acolhe e integra as regras com actividade e a liberdade.
Não
possui a ultima palavra, é condição do filosofar transformar a dialéctica
sintética e os axiomas num processo dialógico que integra tempo e eternidade, o
ser e o devir que não se exercerá numa síntese absoluta nem se abstrai das histórias
e das contingências humanas. Uma condição imprescindível do autêntico diálogo
filosófico pedagógico, implícito em nossas reflexões precedentes, é a unidade
interna entre falar e escutar, dizer e ouvir. No ouvir somos sempre de alguma
forma interpelados. A linguagem oral na forma de lenda, de mito de histórias e
das linguagens humanas a mais antiga e nela o ouvir com tudo que esta contido
nesse verso - é mais importante e abrangente que o olhar. Dai porque, em sala
de aula nada melhor como a narração de um mito - principalmente os platónicos -
para sustentar e encarnação nossos argumentos facilitando assim a transmissão e
compreensão de determinado problemas humanas.
Pestes da amizade, da filosofia, da
pedagogia.
O
desenvolvimento da amizade, e da filosofia tem seu autêntico movimento
emperrado ao ser assolado por um conjunto de pestes. Ate isto, por exemplo, o
prazer que sinto ao ver a desgraça do outro, mesmo que digamos que sentimos
culpa e mesmo que afirmemos que nos condoemos com a dor e sofrimento alheio.
Não raras vezes uma ponta de prazer emerge em nossos corações quando assistimos
alguém escorregar ou colhido pela desgraça.
Um
vírus nefasto da amizade, assim como da filosofia, é a maledicência. As
palavras maledicentes disseminam a peste que coroe as relações humanas, tanto
entre os amantes do saber, assim como as relações entre o educador e o
educando.
Outra
peste que coroe as relações humanas nasce da preferência que as pessoas possuem
de serem mais amadas que amar, de serem mais citadas que citar, de terem seus
feitos mais louvados que louvar as actividades de outras pessoas. E “é por isto
que a maioria gosta de ser adulada; efectivamente, o adulador é um amigo de
qualidade inferior, ou que tem a pretensão de ser amigo e quer estimar mais do
que ser estimado” (Aristóteles, 1992, p.162, apud Piovsan, 2002, p.130),
aspirando honraria, o que segue as nossos olhos para ver as coisas em sua justa
proporção e tampa nossos ouvidos para escolher a palavra própria do outro. Em
outras palavras, o que subjaz a esta pestilência é a ambição e, nas palavras de
Cícero, “não existe maior peste na amizade do que a cobiça de riquezas em
grande parte de pessoas, e, em alguns óptimos homens a disputa das honras e da
glória” (s.d., p.142, apud Piovsan, 2002, p.130). O conhecimento filosófico-pedagógico,
não devia atrelar-se a perspectiva de especializar-se, mas possuir como
principio básico o sentir-se em casa no nosso mundo e possibilitar uma formação
que nos leve a reflectir sobre quem somos, interdisciplinarmente.
Podemos
sintetizar as pestes de amizade e do processo filosófico-pedagógico, com as
palavras de Cícero: “deve se concluir que na amizade não há maior peste do que
a adulação, a lisonja e as louvaninhas. De facto, o vicio destes homens
desprezíveis e falazes, que falam tudo e que podem agradar e nada de
verdadeiro, deve ser estigmatizado com muitos homens. Como, porem, a simulação
de todas as coisas é viciosa (pois tolhe o juízo da verdade e por isso a adultera),
por isso, principalmente repugna à amizade, já que destrói a verdade, sem a
qual o nome de amizade não pode ter valor ”.
Do
processo filosófico-pedagógico autêntica resulta que, por parte do aluno, não
papagueie professor, nem repita de forma alienada suas proposições; afinal como
dizia Kant não se aprende a filosofia, mas aprende-se a pensar. Por parte do
professor, que ele não aterrorize seus alunos ou orientando-os obrigando-os a
citá-lo, a serem panfletários dos seus livros e artigos; que não tenha medo dos
caminhos que eles trilharão com motivos sociais, pessoais e argumentos
próprios, afinal como já dizia Hesíodo “homem excelente é quem por si mesmo
tudo pensa reflectindo o que então e ate o fim seja o melhor; e é bom também
quem ao bom conselho obedece; mas quem não pensa por si nem ouve o outro é
atingido no ánimo; este pois, é homem inútil.
Questões de análise.
Encontre
no texto a amizade entre esta filosofia e educação.
Segundo
o texto em análise, no trecho de gadamer, porque é que ouvir é a condição mais
importante da amizade entre a filosofia e a pedagogia?
Faca
análise do texto procurando descartar o significado mais lúcido do termo
amizade, e dea seus exemplos apoiando-se nas ideias de Aristóteles e Heraclito.
PIOVESAN, Américo at all. Filosofia e ensino em debate.2002. editora unjui rio grande do sul, Brasil.
Saber é vasto, conhecer é restrito, mas tudo é progresso
mental e é felicidade.
O sábio, sabe ser e estar feliz. Sobretudo, sabe viver.
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