MÉTODOS E TÉCNICAS DA HISTÓRIA
- MÉTODOS
E TÉCNICAS DA HISTÓRIA
A História como ciência compreende
dois métodos principais: O método crítico ou crítica histórica e a
interdisciplinaridade.
1.1. Método crítico ou crítica histórica
O método crítico compreende a análise
e a síntese histórica. A análise compreende, por sua vez quatro operações
distintas: a heurística, a crítica externa, a crítica interna e a hermenêutica.
2.
Análise
2.1.
Heurística
Como qualquer área de conhecimento a
análise histórica pressupõe um sujeito e um objecto na escolha do objecto da
sua análise. O sujeito deve ter acerca do mesmo um conhecimento do nível
correspondente ou por outra, o investigador deve partir daquilo que já é sabido
para aquilo que desconhece sob pena de descobrir coisas já descobertas. A partir
do século XVII com o triunfo da dúvida metódica assiste-se o nascimento da crítica
histórica. Desde ai, como afirma Gomes (1988:344), as fontes
interna com o objectivo de averiguar a
autenticidade e a credibilidade do documento.
Porém, antes da crítica recomenda-se a
recolha das fontes que se designa de Heurística.
2.2. A
Crítica Externa ou de Autenticidade
É a operação que examina a
proveniência do documento (verdadeiro ou falso, original ou copia), com o
objectivo de determinar se o próprio historiador se encontra perante um
testemunho directo ou indirecto e assim contribuir para eliminar eventuais
contradições.
Por sua vez a critica externa
compreende a de proveniência e de restituição
2.2.1.Crítica
de Proveniência
Responde a questão Como, quem redigiu o documento, quando
e como foi ele redigido e, finalmente
que vias percorreu ate chegar as nossas mãos.
Nem é sempre possível apurar a autoria
ou o trajecto percorrido porém, a duas questões dificilmente respondera se for
falso.
Para responder ao quando não basta com efeito uma data é preciso que o material ( papiro
pergaminho papel tinta, etc.) e caligrafia corresponda a esta data.
Para responder ao como é preciso que o documento responda ao formulário próprio da
natureza do documento e da respectiva época.
2.2.2. Crítica
de Restituição
Consiste na restituição do documento a
sua forma original depois de eliminadas as irregularidade.
2.3.
Crítica Interna ou de Credibilidade
É a operação que avalia o grau de
confiança que apresenta os documentos. A sua materialização é possível através
de critica de interpretação literária do texto, critica de competência, critica
de veracidade ou exactidão e crítica de intencionalidade ou de sinceridade.
2.3.1. Crítica
de Interpretação Literária
Investiga o exacto sentido do
pensamento do autor, ou aquilo que pretendia dizer. Isto impõe que o
historiador conheça a língua como também a linguagem falada pelo autor.
2.3.2. Crítica
da Competência
Averigua o grau de conhecimento que o
autor tem do conhecimento relatado isto é, se, se trata de um testemunho directo que viveu
directamente o acontecimento ou compilador que construiu sua versão do
conhecimento através de outros testemunhos.
2.3.2.1. Crítica
da Intencionalidade ou Sinceridade
Em que se averigua o grau de insenção do autor ou, até que medida
ele se teria deixado influenciar pelo interesse próprio, de outrem ou pela
simpatia ou antipatia.
2.3.2.2. Crítica
de Exactidão
Averigua o grau de exactidão ou rigor
do testemunho, isto é, ate que medida é que o relato corresponde ao que se passou.
2.3.2.3. Crítica
Comparativa
Averigua o grau de credibilidade de um
testemunho mediante a comparação da informação por ele fornecida com as
informações fornecidas por outros testemunhos.
2.4.
Hermenêutica ou Exegese
É a operação que procede a interpretação
de documentos em termos de saber-se em que medida é que a informação
transmitida por estes respondem as questões inicialmente postas, isto é, o
historiador interpreta e responde as preocupações colocadas e depois vai a
síntese
2.4.1.
Síntese Histórica
É a fase de explicação e
esclarecimento de determinadas problemática em que o historiador de acordo com
a sua conspecção e hipóteses formuladas classifica, agrupa e explica os factos.
Nesta fase o sujeito retém apenas os
factos que importa a sua investigação agrupando em conjuntos de factos por se
tratados de acordo com determinados raciocínios constituitivos entre os quais estabelece laços de
consolidação e de consequência.
2.4.2. A Interdisciplinaridade entre as Ciências
Sociais
As ciências sociais surgem
por volta do século XVIII e XIX com a Revolução Industrial que deixou milhares
de populares desempregadas e como fruto surge a classe burguesa que
representava as massas
Karl
Marx e Augusto Comte
até o século XIX já haviam feito um estudo dos factos sociais tendo concluido
que estas eram um todo, mas que deviam
ser analisadas sob vários pontos de vista da sua compartimentação.
Estes adiantam que , uma
vez que todas as ciências sociais têm como objecto a realidade social, há que
haver entre elas uma conexão ( a interdisciplinaridade).
Alguns sociólogos defendem
que a questão social só devia ser da inteira responsabilidade da Sociologia.
Mas Marcel Mausse e Georges Gurvitch
defendem a existência de várias ciências sociais, mas que as mesmas terão que encontrar
um momento de debate comum, isto é, a interdisciplinaridade entre as
ciências devido a pluridimensão da
realidade social.
O verdadeiro objecto da
história não são os indivíduos tomados no seu sentido da entidade que se bastem
a si próprios, mas o estudo do homem na
sua relação com o meio geográfico, o meio social e com o próprio meio técnico
que ele criou. Dai a necessidade de um dialogo interdisciplinar entre a
história e as outras ciências que partilham o mesmo objecto de estudo - o
homem.
3.
Causalidade Histórica
e Física
Do papel do Homem na História, é fácil
depreender a existência de uma diferença fundamental entre a causalidade
histórica e a causalidade física. Os fenómenos históricos não se prestam a
experiência como os fenómenos físicos: o tempo histórico é irreversível e
irrepitível. As causas físicas têm carácter prospectivo, isto é, podemos dizer
que fenómeno A ( por exemplo, a temperatura de 100° C) terá popr resultado o
fenómeno B (por exemplo, o ferver da água). A causalidade histórica popssui
apenas valor retrospectivo, quer dizer: o conjunto das circunstâncias A ( por
exemplo, a opressão política e social do Antigo Regime, os ideais Iluministas
do século XVIII, etc)torna-nos compreensível o aparecimento do acontecimento B
(por exemplo, a revolução Francesa, que, por sua vez, é um fenómeno
extremamente complexo), mas sempre devemos admitir que o fenómeno B podia ter
sido bem diferente do que foi na realidade.
É fácil, portanto, varificar o quão
falsos são os sistemas interpretativos da história que dela fazem pura
Geometria, encadeando os acontecimentos com uma necessidade inelutável, como
outros tantos teoremas que se demostram.
Que dizer então das famosas leis
históricas, combatidas por uns, defendidas por outros? É inegável que sob a
influência das mesmas circunstâncias, o comportamento humano adquire certa
regularidade, isto é, os homens custumam frequentemente proceder de maneira
semelhante.
Deste procedimento, porém, não podemos
de forma alguma inferir uma certeza física que nos assegure com precisão
matemática a sua repetição constante, sempre que se renovem as mesmas
condições; podemos, sim, estabelecer certas leis morais que possuirõ apena um
valor relativo, pois estarão, em última análise, a incalculabilidade do livre
arbítrio. As chamadas leis históricas
são, no fundo, aquelas leis morais, ilustradas e confirmadas por
numerosos exemplos da história. Não possuem o rigor das leis físicas, cujo
funcionamento podemos repetir à vontade. A História não se repete jamais. A
verdade expressa pelas leis históricas aproxima-se muito perto da sabedoria
popular, contida num provérbio. Não desprezamos nem a sabedoria dos provérbios
nem a da história, mas cumpre que lhe conheçamos a natureza e não a equiparemos
a uma fórmula matemática ou a uma lei física.
4.
HISTÓRIA E HISTORIOGRAFIA
De acordo com Enciclopédia Microsoft®
Encarta®. © 1993-2001 no seu sentido mais amplo, história é o conjunto dos
acontecimentos humanos ocorridos no passado. Historiografia é o registo escrito
do que se conhece sobre as vidas e as sociedades humanas e a forma como os
historiadores estudam, compilam, registam, analisam e interpretam este passado.
4.1
HISTORIOGRAFIA ANTIGA
Cosmogonias
e Mitografias
Aquando do surgimento da escrita, por
volta do IV milénio, evento que não se deu concomitantemente em todo tempo por
toda parte, foi possível que as corporações sacerdotais procurassem registar
por escrito o legado religioso que até ai tinham conservado e que a sua
transmissão era oral. Esta fixação por escrito como afirma Coolingwood
(1989:17) não se restringiu única e simplesmente ao legado religioso como
também eram gravados os antigos heroísmos guerreiros cuja transmissão era até
então encarregue aos poetas. Foi assim que puderam se redimir do esquecimento
ou adulterações, algumas das mas antigas cosmogonias. Apesar do surgimento da
escrita, a moralidade continuou a sua trajectória, o que é explicado pelo
aparecimento de versões diversas de um mesmo tema inicial.
Designa-se por cosmogonias, as primeiras tentativas pré-científicas de explicação
da origem do universo. Uma explicação em que não intervêm apenas elementos
naturais, mas também sobrenaturais, daí a noção de Deus.
Na concepção dos Vedas (índia), o
surgimento do universo e da vida é explicado do seguinte “ (...) Ele criou em primeiro lugar a água na qual na qual depositou um
Germe. Este germe tornou-se ovo, resplandecente como ouro, radiante como uma
estrela. Nele originou-se Brama, principio de toda a vida. (...)” Gomes (1988:32)
Segundo a Bíblia, o instrumento
sagrado e de unidade dos Hebreus:
- No princípio criou Deus criou o
céu e a terra
- A terra, porém, era vã e vazia: e
as trevas cobriram a face do abismo; e o espírito de Deus era levado sobre
as águas.
- E disse Deus: Faça-se a luz. E
foi feita a luz.
- E viu deus que a Luz era boa; e
separou a luz das trevas.
- E chamou à luz dia e às trevas
noite; e da tarde e da manha fez o primeiro dia.
- Disse Também Deus: faça-se o
firmamento no meio das águas, e separarem-se umas águas das outras.
- E fez Deus o firmamento, e
separou as águas que estavam por cima do firmamento. E assim fez.
- E chamou deus ao firmamento céu;
e da tarde e da manha se fez o segundo dia.
- Disse também Deus: As águas que
estão de baixo do céu, ajunte-se no mesmo lugar, e o elemento árido
apareça. E assim se fez.
- E chamou deus ao elemento árido
terra, e ao agregado das águas Mares. e viu deus que isto era bom.(...)
26. E disse Deus: façamos o homem à
nossa imagem, e semelhança; e domine sobre
os peixes do mar, e sobre as aves dos céus, e
sobre o gado, e sobre a terra, e sobre
todo o réptil que se move sobre a
terra.
27. E criou Deus à sua imagem; a imagem
de deus o criou; macho e fêmea os criou.
(“Bíblia” Génesis)
O mito é um fenômeno cultural complexo
que pode ser encarado de vários pontos de vista. Em geral é uma narração que
descreve e retrata em linguagem simbólica a origem dos elementos e postulados
básicos de uma cultura. A narração mítica conta, por exemplo, como começou o
mundo, como foram criados os seres humanos e os animais e a origem de certos
costumes e formas das atividades humanas. Quase todas as culturas possuem ou
possuíram mitos algum dia e viveram de acordo com eles.
Na necessidade que o homem tinha de
explicar a sua origem, foi encontrando diferentes formas de explicação como já
se viu com os vedas e hebreus, os egípcios tiveram explicações mitológicas
cosmogónicas diferentes. Assim, para eles o surgimento mundo e o universo
explica-se através do da cosmogonia e da mitografia que se seguem:
De acordo com o
relato egípcio da criação, no princípio só existia o oceano. Então Rá, o Sol,
surgiu de um ovo (segundo outras versões de uma flor) que apareceu sobre a
superfície da água. Rá deu à luz quatro filhos, os deuses Shu e Geb e as deusas
Tefnet e Nut. Shu e Tefnet deram origem à atmosfera. Eles serviram-se de Geb,
que se converteu na terra, e elevaram Nut, que se converteu em céu. Rá regia
todas as coisas. Geb e Nut posteriormente tiveram dois filhos, Set e Osíris, e
duas filhas, Ísis e Neftis. Osíris sucedeu Rá como rei da terra ajudado por
Ísis, sua esposa e irmã. Enciclopédia Microsoft® Encarta®. © 1993-2001 Microsoft
Corporation. Todos os direitos reservados.
O mito que se segue explica a
imortalidade da alma para os egípcios e que tem origem na ressurreição de
Osiris:
no Egipto nos
primeiros tempos Osiris ( deus da terra, do sol poente, responsável pela
felicidade, e por isso também visto como Deus do Nilo), é assassinado por um
outro Deus seu irmão Set ( Deus do vento do deserto, das trevas e do mal), e
seu corpo espalhado por varias partes do país. Sua Irmã-esposa Isis (deusa da
vegetação e das sementes), auxiliada pelo seu filho Horus (Deus-Falcão e do sol
levante),vai conseguir, através de palavras magicas, reunir todas as partes
dispersas, e Osiris revive, indo morara entre os deuses.
Esta versão de morte e de
renascimento, da luta entre as trevas e a luz, da vida sucedendo a morte, é
vista como se a vida tivesse de origem o rio Nilo, que gera a fertilidade do
Egipto. A noção de imortalidade, para os egípcios é explicada através do
Osiris.
A criação dos deuses pelos homens, foi
com o fito de alimentá-los através do seu trabalho. As mitografias e
cosmogonias permitem obter elementos informativos sobre a natureza e a vida das
civilizações da antiguidade. O mito é sempre uma história com personagens
sobrenaturais, os Deuses. Nos mitos os homens são objectos passivos da acção
dos Deuses, que são responsáveis pela criação do mundo (cosmos), da natureza,
pelo aparecimento dos homens e do seu destino.
Algo de sagrado os mitos contêm, o
tempo. Não é possível fazer os cálculos. Ele é o principio de todas as coisas.
Os mitos diferenciam-se dos contos de
fadas por referirem-se a um tempo diferente do tempo comum (Contos
tradicionais). A seqüência do mito é extraordinária, desenvolvida num tempo
anterior ao nascimento do mundo convencional. Como os mitos se referem a um
tempo e um lugar extraordinários, bem como a deuses e processos sobrenaturais,
têm sido considerados aspectos da religião. Porém, como sua natureza é
integradora, o mito pode iluminar muitos aspectos da vida individual e
cultural.
A história, como forma de explicação,
nasce unida a filosofia. Em geral os historiadores buscam explicações para os
momentos e situações que atravessam as sociedades as quais elas vivem. É o caso
do Heródoto que estuda a guerra entre os gregos e os persas ( 490-479 a. C.),
um grande confronto entre o oeste e o leste que marcou o século V a. C. Nessa
guerra os gregos indo contra a expansão imperialista persa, asseguraram a sua
independência. Tucídides, outro grande historiador grego, estrategista de
Atenas que vive entre os séculos V a IV a. C., vai estudar a guerra de
Peloponeso, entre Esparta e Atenas.
Políbio, grego historiador do século
II a.C. (após a Grécia ter ciso conquistada por Roma), escreveu:
(...) desde que o homem assume a atitude de
historiador, tem que esquecer todas as considerações, como o amor aos amigos e
ódio aos inimigos... Pois assim como os seres vivos se tornam inúteis quando
privados de olhos, também a historia da qual foi retirada a verdade nada mais ‘e
do que um conto sem proveito.
Políbio testemunha a ascensão de Roma
( onde esteve preso como refém durante 16 anos) procura saber como, em
aproximadamente 50 anos, os romanos tornaram-se donos do mundo habitado ( na
visão de então, a zona mediterrânea). De
facto a cultura Romana é em grande parte herdeira da cultura grega. Segundo
Políbio, “ a Roma é a obra mas bela e
útil do destino.” E que todos os homens devem a ela submeter. Assim, na
concepção de Políbio, a história é mestra da vida, ela deve levar os homens a
compreenderem o seu destino. Roma, centro do mundo, ao impor a sua civilização
e seu destino passou a ser destino histórico mundial. Assim, a historiografia
foi evoluindo ao longo do tempo e em diferentes épocas.
4.2
HISTORIOGRAFIA JUDAICA
Esta historiografia encontra-se
assente na bíblia o instrumento de unidade do povo judaico.
A bíblia (Antigo Testamento) é
composta por seis grandes obras
nomeadamente o Génesis, Exôdo, Levítico,
Números, Deuteronómio e Josué. Deuteronómio e Levítico constituem as
obras das leis e as restantes descrevem a história do povo judaico desde a
origem, a passagem pelo Egipto até a instalação definitiva na Palestina.
Compreende também um conjunto de oito obras de história livros de
juizes, livros de Rute, livros de Samuel, livros de Reis, livros das crónicas,
livros de Exdras, livros de Ester e livros de Jonas.
Compreende livros poéticos: salmos, lamentações, poesia erótica ( Salmo XLV) e
cânticos) , poesia Didáctica ( livros de Jó proverbios e Eclisiastes).
Livros
proféticos: livros de
Isaias, Jeremia, Ezequel e mais.
Livros
apocalípticos: livros de Daniel e livros apócrifos: livro de
Macabeus, de Judite, etc.
Pela qualidade de abordagem temática a
bíblia constitui uma verdadeira literatura histórica do mesmo povo assim como
dos povos do oriente com os quais os judeus mantinham contactos ( caldeus,
egípcios, fenícios assírios, persas, etc.).
Até ao século XIX, por falta de fontes
de informação a Biblia desempenhou um papel decisivo na transmissão de
informações sobre o passado do próprio oriente antigo. E é na bíblia onde se
encontra narrado a história da humanidade desde Adão e Eva, assim:
A história do começo do mundo é narrado (...)
em Génesis escrito por Moisés sob a inspiração de Deus (...) no começo da
humanidade Deus criou Adão e Eva (...). É deles que descende todos os homens,
viviam ambos no lugar da delícia chamado paraíso terrestre (...) foram expulsos
por terem desobedecido a Deus (...) tiveram três filhos Abel, Caim, e Sete. Por
inveja Caim matou o seu irmão(...) a corrupção foi tão grande que Deus se
arrependeu de ter criado o género humano e resolveu destruí-lo por um diluvio
universal (...). Noé homem justo foi poupado assim como toda a sua família
(...) construiu uma arca na qual se refugiou (...) durante 40 dias e 40 noites.
No fim de cinco meses (...) saiu da arca e ofereceu um sacrifício de gratidão
ao Senhor, que lhe prometeu não mandar mas diluvio à terra e lhe deu o
arco-íris como sinal de aliança. Os filhos de Noé Sem, Shame e Jafete
estabeleceram-se na Mesopotâmia (...). Ensoberbecidos e esquecidos de Deus
resolveram erguer uma torre tão alta que antigisse o céu. Afim de castigar
tamanho orgulho o Senhor confundiu-lhes a linguagem: não puderam mas
entender-se e foram obrigados a separar-se (...). Génesis cap. I
Assim, a partir do século XIX como
afirma Borges ( 1993:14), com a decifração das antigas escritas egípcias e
cumeiformes, a bíblia passou para o segundo plano na transmissão da história
das civilizações. Isso deveu-se não só pela antiguidade da Bíblia como também
pela credibilidade das novas fontes.
Dois obstáculos minavam a unidade dos
Judeus, nomeadamente o nomadismo e a sujeição a influências estranhas.
Do contacto entre os judeus e mais
povos surgem dois poderes, o poder espiritual e temporal caracterizados ora por
alianças ora por rivalidades o pela supremacia dum sobre o outro. Os dois
poderes tinham objectivos contraditórios. Enquanto os sacerdotes defendiam a
conservação da identidade dos judeus zelando pela pureza da religião, a realeza
defendia o alargamento do domínio territorial integrando politicamente as
regiões vencidas.
Defendendo os interesses sacerdotais a
Bíblia conservou um caracter exclusivista
que é a defesa de uma ortodoxia – a tradição mosaica rejeitando tudo que
lhes era estranho.
Em fim, a característica fundamental
da historiografia judaica é a sua incapacidade de ascender a uma concepção
universalista do homem, isto é, tudo se passa para os judeus. É como se a
história dos judeus fosse a história universal.
4.3
HISTORIOGRAFIA GRECO-ROMANA
4.3.1
Historiografia Grega
Na Grécia, a exemplo das sociedades do
oriente antigo existiu uma concepção mítica e teocrática da evolução da humanidade, como é o caso do
mito das idades segundo o qual a humanidade tinha passado por etapas de
evolução nomeadamente: idade do ouro, idade da prata, idade do bronze, idade
dos Heróis e idade do ferro onde a idade do ouro tinha sido a melhor pois nela
o homem não tinha tido sofrimento. Assim, não se pode falar de uma ciência
histórica, associadas a estas concepções. Mas na Grécia clássica iniciou a
cientificação da história. Esta inovação deveu-se ao facto de a Grécia de
então, ter conseguido avançar em muitas áreas de desenvolvimento social por
volta do século V a.n.e. O exemplo disso é a institucionalização da Democracia
durante as reformas iniciadas por Drácon.
Portanto, Atenas, diferentemente de
outras cidades da sua época, pôde conceber e aplicar princípios democráticos
embora com algumas especificidade, principalmente no alcance das referidas
democracias, isto é, usufruía da democracia só e só o cidadão (filho de pai e
mãe gregos e do sexo masculino). Estas inovações de abertura levaram a Grécia a
se destacar em vários domínios inclusive o pensamento. Daí que o pensamento
grego de então revelava uma maturidade, o que se reflectia nas ciências entre
elas a história.
Assim, a história nasceu na Grécia
destacando-se o papel de Heródoto
(484-424), considerado o pai da história. Desta forma ele ultrapassa a
fronteira de uma historiografia gentílica e ecuménica. Tanto Heródoto como Tucídedes não escrevem uma história
universal, mas preocupam-se em utilizar fontes fidedignas como afirma Gomes
(1988: 47-48). Eles não contentavam-se com a história possível, ambicionavam
uma história universal, mas encaravam dificuldades de disponibilidade de fontes
fidedignas. Acredita-se porém, que, com Heródoto a história não é ciência mas
ensaiam-se os primeiros passos da sua cientificação como é o caso de Tucídedes
que ao escrever a história de Peloponeso recorre ao testemunho próprio por ter
participado como combatente. Elogia-se o espirito crítico adoptado por
Tucídedes ao criticar as fontes ( crítica das fontes através do cruzamento das
informações).
Assim, conclui-se que a história feita
por Heródoto e Tucídedes tem o objecto e uma metodologia definidos, pois estuda
o passado e o presente dos homens, valoriza não só as fontes orais como também
os testemunhos oculares através do método de observação, reflexão, análise
crítica, comparação e síntese. E com uma finalidade de uma história verdadeira
que defende a objectividade.
Portanto a historiografia grega
caracteriza-se por ser humanista ( seu objecto de estudo é o homem) cientifica
(inicia-se neste caminho) auto-reveladora ( projecção do presente no futuro,
ensino do passado e do presente revelando o sentido da acção humana) e
pragmática ( faz do ocorrido uma lição para o futuro).
O constrangimento da historiografia grega
prende-se com a limitação espacial devido a escassez dos transportes para
entrar em contactos com povos relativamente distantes e escrever a sua
história.
4.3.2.
Historiografia Romana
Em Roma a história é uma exaltação da
cidade e do império adquirindo, pois, um caracter nacional e patriótico apologética a sua intenção é vincadamente
pragmática. Relativamente ao rigor e ao método os historiadores romanos pouco
ou nada adiantam.
Dos principais historiadores romanos
destacam-se:
Políbio
de origem grega que
chegou a Roma como prisioneiro. Ele preocupa-se não apenas com aquilo que muda
mas também com aquilo que permanece, com aquilo que ciclicamente se repete.
Tendo aplicado à história o modelo cíclico dos factos, isto é, a sociedade
humana nasce, passa por uma juventude e uma maturidade, envelhece e morre.
Graças a sua concepção cíclica a
história é concebida como conhecimento do geral, daquilo que se repete e como
tal daquilo que obedece a lei e susceptível a previsão.
Tito
Lívio intelectual ao
serviço do imperador Augusto, empenha-se em fazer uma história nacional. Por
falta de fontes fidedignas sobre Roma ele recorre a lendárias. Em termos reais
ele faz uma historiografia ao serviço de fins práticos, exaltar e alimentar o
espirito cívico nacional ou patriótico romano.
Tácito
um dos historiadores
romano mas controversos foi acusado de parcialidade quando escreveu as sobre as
figuraras políticas de Tibério e Nero.
Collingood ( 1989:41) conclui que
Tácito falseia os factos históricos, porque nem sempre o império romano foi
marcado por pensamento vigoroso e progressivo como ele defendia.
4.4.
HISTORIOGRAFIA CRISTÃ ANTIGA
O cristianismo surge no contexto da
ocupação romana à Palestina. Este resultou do problema de ordem institucional
endémico, isto é, do confronto entre o poder espiritual e temporal. Para
superar este problema foi enviado o Messias quem tinha a missão de purificar o
cristianismo.
Segundo Correia ( 1944:17), Cristo disse que não vinha para anular Moisés e os
profetas nem para destruir a Lei, mas para consumá-la em perfeição. Dando um
enorme passo do gentilismo ao ecumenismo cristão que derrubava todas as
fronteiras desde às da raça , às da nacionalidade e às da própria condição
social, diferentemente do salto grego
( helénico) e romano que eram
marcadamente abertas as relações económicas e culturais.
A abertura cristã acabou pondo em
risco as instituições judaicas e romanas, que defendiam as desigualdades
sociais, económicas e culturais. Com este carácter de contestação de barreiras
sociais entre ricos e pobres, entre senhores e escravos, entre poderosos e
humildes, o cristianismo encontrou terreno mais favorável para a sua propagação
no império romano, ao se identificar-se com a bandeira do antiesclavagismo
substituindo a escravatura por uma rede de novos vínculos. A permissão de casamentos clandestinos de escravos com
indivíduos livres constitui um exemplo típico desde processo de uma verdadeira
revolução social em Roma.
Devido ao fácil acesso das vias
mediterrâneas o cristianismo rapidamente se difundiu por todo império romano
O verdadeiro cristianismo era mais
temido pelos judeus do que pelos romanos, pois aqueles continuavam fechados ao
exclusivismo nacionalista e racista talhado no modelo de povo eleito de Deus
enquanto que o cristianismo abria-se a toda gente sem distinção de raças, de
fortunas ou de sexo.
A rápida expansão crista inverteu o
sentido da expansão romana, pois as mesmas vias usadas para transportar
soldados romanos eram as mesmas usadas para o transporte dos evangelizadores.
As comunidades cristas dentro do
império romano funcionavam como se fossem pequenos estados dentro de um estado
pregando a igualdade entre os homens. Foi encetada uma acesa perseguição contra
os cristãos, o que culminou com a morte de Jesus. Perseverando, os cristãos
continuavam pregando o evangelho mesmo nos locais onde se encontravam
refugiados. A pressão foi tão forte que o cristianismo foi angariando novos adeptos dentro do império
constituindo assim um grande perigo para o poder real.
Rendendo-se a esta realidade o
imperador Constantino sentiu-se obrigado a permitir o livre culto das crenças
cristãs em 312.
A
sociedade romana do século III
vivia uma situação política perversa.
Incapazes de analisar perfeitamente, identificando correctamente as
causas que estavam na sua origem os romanos atribuíram-na a ira de Deuses.
Portanto, as instituições romanas revelavam-se
já incapazes de conter a anarquia militar e política que lavrava o império.
Havia assim que recorrer por muito que isso repugnasse a aristocracia romana, a
única organização que até ai dera prova da sua capacidade de coesão e unidade: os cristãos.
Assim, Constantino ao conceder
liberdade de culto aos cristãos fê-lo como uma aliança político militar
mediante a qual em troca da liberdade do culto, as autoridades cristãs
concederiam auxilio militar político e religioso.
Em 325 Constantino convoca o concilio de Nicea na qual punha fim as
rivalidade entre o cristianismo e o politeísmo romano ora ainda praticado
dentro do império, ao proibir cultos politeístas e perseguir os seus
seguidores.
Gomes aponta o seguinte:
Creio num só Deus pai
todo poderoso, criador de todas as coisas visíveis e invisíveis, creio num só
senhor, Jesus Cristo, filho de Deus, o unigénito do pai isto é, engendrado da
essência do pai, Deus de Deus, luz da
luz, verdadeiro Deus do verdadeiro Deus, engendrado mas não criado;
consubstancial ao pai por quem todas as coisas foram feitas; que por nos homens
e para a nossa salvação desceu do céu encanou e se fez homem sofreu e
ressuscitou ao terceiro dia, subiu aos céus e voltara para julgar os vivos e os
mortos. Creio no espírito santo(...). (Gomes,1988:79)
Relativamente às fontes, a historiografia cristã baseava-se
em fontes doutrinárias e fontes históricas. Esta historiografia inicia o seu
trabalho a partir de uma selecção prévia de informação a utilizar.
Caracterizava-se por ser uma historiografia apologética construindo assim a sua versão da história humana e providencialista na medida em que
coloca por cima da livre vontade dos homens a vontade de Deus e o seu designo
sobre o mundo.
Portando, pode-se concluir que a
cristianização das estruturas políticas, económicas, sociais, culturais e
mentais do império romano contribuiu de maneiras para a sua queda e semeou uma
nova sociedade de cujos princípios se
fundamentavam através de Deus criador:
sociedade Medieval, que a seguir faremos um estudo pormenorizado.
4.5.
HISTORIOGRAFIA CRISTÃ MEDIEVAL
Começa por volta do ano 476 no século
V com a queda do império romano do Ocidente na sequência da tomada de Roma
pelos bárbaros. A destruição do Império
do Ocidente marca o fim da Antiguidade esclavagista e o início da Idade
Média feudal. A substituição da formas de vida política, económica e social até
ai estabelecidas devido a paralisação da actividade comercial, destruição das
cidades e fuga das populações das zonas urbanas para as rurais (ruralização).
O ecumenismo grego e romano foram
frutos de expansão, daí o período
medieval ser considerado um período de retrocesso devido a regressão da
expansão na medida em que as pessoas regressaram ao campo onde encontraram a
base da riqueza - a terra. Os contactos entre as pessoas diminuíram, a
sociedade tornou-se fechada e conservadora com traços gentílicos de uma
sociedade socialmente igualitária do século I na idade media o cristianismo
tornou-se uma religião de classes onde o clero ocupa um lugar de destaque na
hierarquia social.
Portanto o advento da Idade Média do
século IV V, acompanha a progressiva
implantação do cristianismo no mundo ocidental e a instalação do pensamento
cristão como forma de pensamento dominante entre a classe intelectual. Esta
transformação das estruturas mentais e intelectuais que vinha do Império romano fez aparecer uma
nova concepção historiografia norteada pela concepção cristã do mundo cuja produção é da responsabilidades dos monges.
Segundo a concepção medieval da
história todo o curso da humanidade é regida pela providência divina .
Para Mercea Eliade a história medieval revela-se como nova dimensão da
presença de Deus no mundo. Esta concepção tem uma finalidade trans-histórica.
Contrariamente a este pensador, Henri Marrou defende que o cristianismo
medieval contribui de dois modos para o desenvolvimento do pensamento
histórico:
1° Porque assenta numa concepção de
tempo contínuo e irreversível, isto é, os acontecimentos da vida de Jesus são
datados e localizados;
2° Transmite uma filosofia de história,
ao considerar o papel da providência como motor da evolução.
A historiografia medieval é a
aplicação da concepção de Santo Agostinho na sua obra “Cidade de Deus,” ao
afirmar que os romanos foram honrados em quase todas as nações. Não têm motivos
para se queixar da justiça de Deus supremo e verdadeiro: receberam uma
recompensa. Em contra partida os judeus que tinham morto cristo, foram
justamente entregues aos romanos para a glória destes. Aqueles que pela sua
virtudes procuram obter a gloria terrestre devem vencer aqueles que com seus
enormes vícios mataram e recusaram a
verdadeira gloria da cidade eterna.
Portanto, Santo Agostinho defende fortemente que os acontecimentos são de
origem divina e não podem ser concebidos de outro modo.
A partir do século XIII surge na
Europa ocidental um novo tipo de historiografia de iniciativa régia ou senhorial, que tem por centro as
respectivas cortes e por autores cronistas ao serviço dos reis ou dos senhores
que lhes contratam e lhes encomendam as Crónicas dos seus principados ou
reinados.
Tratava-se não de uma transmissão de
uma imagem fiel e objectiva dos factos narrados mas de uma imagem conveniente à
instituição servida pelo cronista. Até que o próprio colunista era um homem ao
serviço do príncipe.
Enquanto esta história palaciana continuava a assegurar séculos próximos
através de Crónicas e Annales , o século XIV vê a emergir a historiografia
burguesa fazendo a história das cidades que se tornaram autónomas. Deste modo,
as Crónicas burguesas do século XIV abandonaram sem polemizar a historiografia
cristã medieval, encaminhando-se para uma secularização da história, isto é,
uma fase em que o homem substitui o deus no desenvolvimento da história da
humanidade. Assim, transitava-se da historiografia cristã medieval para uma historiografia antropocêntrica ou de renascimento, nos séculos XV e XVI.
4.6. HISTORIOGRAFIA DO
SÉCULO XV-XVI
A historiografia crista medieval era essencialmente teocêntrica, onde Deus
vigorava como centro do processo histórico. Na historiografia do renascimento,
desloca-se esse centro para o homem ou seja houve uma valorização do homem do
teocentrismo que passou para antropocentrismo, o homem culto moral e racional
que não precisa de invocar o espirito e imagens divinas para explicar tudo que
estava a sua volta.
Pico Della Mirandola (1463-1494) da
academia platónica de Florença segundo Gomes (1988:114) foi quem colocou na
boca de Deus a carta de Alforria do homem ao afirmar: “(...) Adão, não te demos nem lugar preciso nem forma que te seja
própria, nem função particular, afim de que de acordo com os seus desejos e teu
discernimento possas tomar e adquirir o lugar, as formas e as funções que
desejares (...)”.
E, finalmente, o homem passou a ocupar
o centro do universo ganhando grandeza e dignidade comparativamente ao homem
bíblico.
O espirito crítico desenvolvido no
Renascimento teve reflexões a nível da história que passou a ser meio de
fundamentação de críticas às sociedades do tempo.
A Reforma Religiosa teve um papel
preponderante no desenvolvimento da preocupação crítica dos textos visto que
para fundamentarem a sua doutrina e se auto-proclamarem como legitimas
herdeiras das primeiras comunidades cristãs, os movimentos religiosos foram
incitados a proceder a uma analise dos textos sagrados no sentido de verificar
a sua autenticidade.
Todavia, o carácter dominante na historiografia
do século XV relaciona-se com o facto de os humanistas terem voltado ao pragmatismo ao terem reduzido a
história quase exclusivamente a política onde esta destinava-se a acrescentar a
reputação do Estado e facilitar a educação dos reis e príncipes.
Assim, a historia tinha uma função
educativa na medida em que ela era usada para os príncipes e reis aprenderem a
melhor forma de governar os seus reinos bem como aprenderem exemplo que não
deviam ser seguidos.
O século XV pôs em prática uma nova
teoria de poder (o poder absoluto) que traz-nos uma nova concepção de estado no
que respeita as instituições políticas: um estado temporal e soberano
totalmente independente da tutela da igreja, centralizado e único.
O maior mentor deste novo estado foi italiano
Nicolau Maquiavel (1469-1527), na sua obra “discursos”, ele pronuncia-se pela
excelência do regime republicano ou seja, ele entende que o ideal do Estado é o
regime republicano com a eleição dos dirigentes, o que considera mais adequado
para evitar os abusos do poder e para enfrentar os privilégios feudais. A sua
concepção tem por base as sociedades quatrocentista em que a burguesia,
interessada na livre circulação dos seus produtos, aspirava a formação de
mercados nacionais cada vez mais vastos, económica e politicamente integrados.
Um outro aspecto abordado por
Maquiavel, foi a problemática do sujeito do processo histórico. Para ele, se
Deus e a fortuna têm alguma margem de intervenção na história ao homem pertence
pelo menos metade desta intervenção
“Sei muito bem que
alguns foram e são de opinião de que os assuntos deste mundo são de tal modo
governados por Deus (...) os homens apesar de toda sua sabedoria, não os podem
corrigir nem para eles tem sequer nenhum remédio. Assim seria lógico que (...)
se deixam governar pela sorte.
Esta opinião
reconquistou crédito no nosso tempo com as revoluções (...). Contudo, para que
o nosso livre arbítrio não se instinga, parece me possível que a fortuna seja
sanhora da metade das nossas obras , mas que nos deixe governar (...) a outra
metade. Comparo-a àqueles rios que costumavam transbordar, (...) inundam as
planícies em redor, destroem ‘arvores e casas, (...). Todos fogem diante dele (...)
ao seu furor sem nada poder fazer para conter. Mas, embora mostre-se assim
furiosos em certas estacões (...), no tempo calmo não deixam de ter a liberdade
de providenciar por meio de muralhas diques de modo que se o seu caudal aumentar de
novo transborde por um canal ou encontre pela frente um dique que lhes contenha
o furor e não permitam que sejam tão ruinosos” Maquiavel
“O Príncipe”
No quadro do alargamento dos mercados
comerciais, a burguesia viajara e entrara em contacto com povos de diferente raças costumes, religião,
sensibilidades morais e estéticas, o que contribuiu para despertar nelas a
ideia da relatividade das coisas.
Perante este mundo diversificado, a
burguesia sentiu a necessidade de criar um novo critério de verdade que lhe
permitisse uma orientação. Esse critério, foi a experiência.
A partir deste novo critério,
acentuaram-se as exigências racionais de coerência entre a teoria e a prática
assim como o hábito de submeter a validade de juízos a sua comprovação. Ao pôr
em causa as versões correntes do saber antigo, a experiência burguesa,
despertou nos humanistas o espírito crítico e a exigência intelectual de
reconstituir os textos antigos aos contextos históricos em que tinham surgido.
Do ponto de vista historiográfico, há
que destacar a obra do italiano Lourenço Valla (1407-1457) que consistiu em ter
provado a falsidade da “doação de Contantino”. Pertença doação feita pelo
imperador Constantino (312-327) à Igreja católica e que por esta era invocada
para legitimar o seu poder temporal.
À Valla pertence o mérito de ter provado a sua
falsidade demonstrando em vez de o
documento corresponder à época de Constantino, que viveu no século IV, o seu
estilo correspondia ao estilo medieval do século VIII.
No século XVI, alarga-se o tempo
temático da pesquisa histórica, na medida em que a história passa a desenvolver uma
diversidade de temas de carácter económico, social e cultural, não obstante a
primazia dos factos políticos.
Foi neste mesmo século que surgiram as
primeiras tentativas de explicação dos fenómenos económicos. É o caso da teoria
quantitativa dos preços mediante o qual, o francês Jean Budin (1530-1596)
pretendeu explicar a subida dos preços atribuindo-a a abundância dos ouro e da
prata que afluíram na Europa provenientes das colónias espanholas da América.
O facto de se terem ensaiado tentativas
de explicação destas questões, não propriamente segundo uma perspectiva
histórica, faz-nos situar no século XVI, uma etapa importante do
aperfeiçoamento do conhecimento científico em história.
Um outro pensados renascentista, foi o
português Fernão Lopes o prólogo da crónica do Dom João I de que ele é autor.
Um documento notável do ponto de vista da definição da historiografia. Nele
está patente a sua defesa da independência do historiador perante as
autoridades e o sentido da sua responsabilidade perante o povo, procedimentos
que coloca Lopes na vanguarda dos historiadores europeus do seu tempo. Para
Lopes, o motor da história é a sociedade no seu conjunto, mas propriamente o
povo.
4.7.
HISTORIOGRAFIA dos séculos XVII – XVIII
No
século XVII, as ciências
exactas e naturais tiveram grandes progressos. Em 1628 Harvey
dá a conhecer os princípios da circulação do sangue no corpo humano com a
publicação dos discursos de Galileu
em 1638, com a experimentação de Torricelli
e Pascal e com o progresso dos matemáticos a física avançava.
Tendo posto em causa o legado cultural
deixado pelos antigos, os descobrimentos ibéricos tinham substituindo como
critério de verdade o saber livresco pela experiência Senhorial. Mas se no
domínio das ciências da natureza era possível tomar como critério de verdade a evidencia senhorial , isto é, a experiência, já no domínio das ideias
isso não era possível.
Colmatando essa lacuna surge Descartes a preconizar como critério de
verdade a evidencia racional
(racionalismo). Simplesmente longe de ser um dado imediato dos sentidos ou da
revelação divina, a evidencia é o termo de um longo trabalho crítico efectuado
através de sucessivas análises e
sínteses e permanentemente acompanhado por uma dúvida metódica que surge o método histórico de investigação
sobre a qual ira erguer-se pouco a pouco o edifício da historiografia
científica.
Entretanto no século XVII a história
recua. Com efeito não só do ponto de vista religioso se reafirma a concepção
teológica (Deus guia o mundo) como do humanismo se conserva exclusivamente o
aspecto literário e artístico silenciando o despertar da curiosidade universal
do espírito.
Busset (1627-1704) na sua obra
“discurso sobre a história universal” admite que o processo histórico é
determinado não só pela intervenção de Deus mas também pela intervenção de
causas naturais. Ao mesmo tempo na Inglaterra davam-se importantes passos para
o futuro do pensamento histórico. Surgiram os primeiros ensaios da demografia
histórica; as primeiras tentativas de explicação do produto nacional e com
William Petty os primeiros trabalho de que ele denominou de “aritmética
política” ( induções e deduções a partir das estatísticas políticas).
No
século XVIII e sobre
o impulso da filosofia das luzes (iluminismo), a história desenvolveu-se a
vários níveis. O seu conteúdo deixou decididamente de se dedicar as narrações
de guerra ou de vida dos monarcas. O campo das investigações históricas é
substancialmente alargado.
Voltaire no “ensaio sobre costumes e o
espirito das nações” é um bom exemplo destas tendências “ eu desejo descobrir como era então (nos séculos XII e XIV) a
sociedade dos homens, como se vivia no seio das famílias, que antes eram
cultivados, em vez de repetir tantas desgraças e tantos combates, funestos
objectos da historia em lugares comuns da maldade
humana.”
Até ai confinado as classes políticas
da classe dominantes, o objecto da história ‘e alargado a todos os aspectos da
sociedade: a economia, aos costumes as instituições.
O problema das instituições políticas
que já fora abordado anteriormente por Maquiavel e Bodin agora abordado por Montesquieu (“o espirito das leis”) e
por Rousseau ( “o discurso sobre a
origem das desigualdades entre os homens” e do “contracto social”).
Montesquieu, apesar da sua ambiciosa
investigação no domínio dos factos naturais que conciliaram a organização das
instituições políticas e as varias formas de estruturação do poder, acabou por
fazer do “ espirito das leis” um compromisso entre a burguesia e a nobreza
defendendo um regime de monarquia constitucional onde a nobreza tradicional
teria um lugar de destaque.
Rousseau foi o defensor de alguns dos
valores mas caros a nova sociedade burguesa: a soberania popular como fonte de
legitimidade do poder, o amor de liberdade e da independência na igualdade
entre os homens, o amor fraternal e universal, o amor a natureza e a vida
simples e espontânea, o casamento por amor...
5. Historiografia do
Século XIX
5.1.
HISTORIOGRAFIA ROMÂNTICA
Esta corrente historiografia, foi
marcada por dois grandes
acontecimentos: A revolução burguesa na
França e a revolução industrial na Inglaterra. Antes da revolução
francesa, existia na França uma
estratificação social composta por clero, nobreza e terceiro estado. Era
governada por um regime absolutista onde o clero e a nobreza chamavam a si
todos os poderes, enquanto as massas (
San Collotes) não tinham nenhum direito vivendo numa pobreza estrema.
Com a revolução industrial, os
comerciantes foram acumulando muitos capitais formando assim a classe intermédia-
a burguesia. Com o decorrer do tempo, esta burguesia estando economicamente
forte ambiciona o poder. Sendo assim, com a ajuda do terceiro estado ( San
Collotes), a burguesia consegue derrubar o clero e a nobreza do poder. Uma vez
no poder a burguesia esquece-se do terceiro estado deixando esta ainda numa
vida dissoluta, o que semeia-lhes uma insatisfação. Foi assim que, organizados,
os San Collotes derrubaram a burguesia e
passou a classe média. Portando o Romantismo vai conhecer três sobcorrentes:
5.1.2.
Romantismo conservador
Defendido por: Chateaubriand, Joseph
Maistre, De Bonald.
Aguçados pela nostalgia, ambicionam
voltar o retomar a idade média, pois foi a altura em que eles tinham maior
expressão (o clero e a nobreza). Defendiam a restauração da fé cristã como
fonte da vida, isto é, queriam a uniam entre o estado e a igreja.
5.1.3.
Romantismo Liberal
Defendido por: Michelet, Thierry,
Guisot, Alexandre Herculano...
Considerando que a burguesia mergulha
as suas raízes na idade média, esta
também cobiça recuar no tempo até a “época das trevas”, época esta onde ela
encontrara maior expressão ( baixa idade média). Defendia a separação dos
poderes religioso e político.
5.1.4.
Romantismo socialista
Defendido por: Saint Simon, Charles
Fourier, Robert Owen…
Levada a cabo por San Collotes que
pretende o poder depois da revolução industrial. Estes defendem a igualdade de
direitos entre todos os cidadãos, defendendo uma sociedade sem classe, o que em
regra geral não é possível. Daí serem apelidados por socialistas utópicos
Duma forma geral esta historiografia
caracteriza-se pela:
- Permanecia da abordagem da
problemática do sujeito histórico. Com a influencia da revolução industrial,
alguns historiadores defende que o sujeito da historia é o povo pois foi o povo
que contribuiu para o fim do absolutismo;
- Tendência de se escrever histórias
racionais como fruto da influencia do
próprio Romantismo que valorizou o amor a pátria ou seja a uma exaltação do
sentimento nacional patriótico;
-
Tendência de se escrever uma história total, alargando assim o campo
temático da história, diversificando os temas a abordar, isto é não somente os
factos políticos. Devem ser considerados todos aspectos que dizem respeito a
vida do homem;
- Preferência de temas medievais pelos
conservadores, foi a sua época de prosperidade e pela burguesia, foi a sua
época de grande expressão;
Os românticos debruçaram-se no seu
estudo sobre a Idade Média com base nos documentos escritos visto que com as
revoluções os arquivos senhorias passaram para as mãos do estado e são postos a
disposição dos historiadores românticos.
A concepção historiográfica do
romantismo foi influenciada pela ideologia liberal. Que defende que a história
não deve ser estudo de grandes homens mas deve ser o estudo do povo (que é o
objecto de estudo da história), nos seus
aspectos sociais, das instituições em geral da sociedade.
5.1.5.
Principais inovações da historiografia romântica
- Alargamento da investigação
histórica o passado tornam-se o fulcro das atenções e na buscas das origens,
descobre a idade média e com ela redescobre-se o gosto pelo passado mas também
a ideia de mudança e progresso
histórico.
- A
Alteração do objecto da historia. Esta na mira dos historiadores, não
apenas os factos políticos e individuais, mas também os factos ideológicos e
mentais. O conhecimento global das sociedades e das suas instituições. O
interesse dos historiadores debruçam-se também por outras civilizações e pelo
exotismo dos seus costumes.
- Definição de nova metodologia -
o método científico
Se procedermos uma avaliação crítica
a historiografia romântica perceberemos
que os historiadores românticos preocuparam-se pouco com a objectividade da
historia na medida em que estavam mais
empenhados em invocar a idade média; em acentuar a individualidade racional, em
glorificar a pátria e a revolução, do que em abrir novas vias de investigação
histórica. Daí que a historiografia romântica não conseguiu satisfazer por
muito tempo os espíritos ávidos de uma explicação racional.
Portanto, o historiador não poderia
continuar a ser romancistas do passado. Daí que esta corrente foi em breve
abalada por uma nova corrente - o positivismo de Augusto Conte que exigia da
história “ uma verdadeira filiação
racional nas sequências dos acontecimentos
sociais” onde a história devia elevar-se para além do individual,
formular leis absolutas objectivas e universais.
5.2. MATERIALISMO
HISTÓRICO
Esta corrente surge por volta do 1848, como fruto da conjura Europeia que
então se vivia. Numa época da expansão industrial e do capitalismo que originou a concorrência da mão de obra, que levou a
degradação das condições de vida do proletariado e o consequente distanciamento
entre as classes ( trabalhadora e patronal).
Esta é também uma época do triunfo dos
movimentos nacionalistas, dos ideais autonomistas dos povos, do sindicalismo...
Esta corrente filosófica foi criada
por Karl Marx ( 1818-1883) e Friedrich Engels ( 1820-1895) que pretende adoptar
a análise da realidade histórica a dialéctica Hegeliana expressa no
trinómio Tese – Antítese – Síntese por
esta razão esta corrente é também apelidado de Materialismo Dialéctico.
Mas, a dialéctica de Hegel não é uma
concepção da historia na medida em que ele prima o mundo das ideias expressa no
trinómio. É na base da dialéctica hegeliana que Marx fez a analise da história
da humanidade, materializado-o.
Quando se fala do materialismo histórico deve se ter em
conta os modos de produção. Para Marx o modo de produção é constituído por dois
elementos fundamentais: A infra-estrutura e a superestrutura.
A
infra-estrutura diz
respeito as forças de produção que integra a força de trabalho o elemento
que entra com a energia física e mental necessária a execução da produtividade
(o trabalhador) e os meios de produção tudo que o trabalhador necessita para produzir (terra , alfaias
agrícolas, as sementes, os animais de tracção, ...) e as relações de produção que
segundo Marx seriam as seguintes:
Primeiro, em que os meios de produção
pertenciam aos trabalhadores, teria sido o modo de produção primitivo
caracterizado pela propriedade colectiva da terra e pela divisão do trabalho na
base de sexo e idade e as relações eram na base da igualdade e solidariedade ao
que Marx apelidou de – Comunismo primitivo;
Segundo formas de relação em que os
trabalhadores e os proprietários de modos de produção são entidades distintas,
em que a relação de produção é feita entre trabalhadores e os proprietários dos
meios de produção tomam o seguinte caracter:
a)
Em que relação de produção toma a forma de relação senhor-escravo, como
resultado de guerras destinadas a conquistas de terras férteis nas quais os
vencedores transformam os vencidos em
escravos, dando origem a uma sociedade diferenciada em classes distintas e de interesses
antagónicos- Sociedade escravagista.
b) Em que a relação de produção toma a
forma de relação senhor-servo. Derivou da forma típica da exploração da grande
propriedade feudal, onde o servo tinha que pagar uma renda anual, vários
impostos ao longo do ano e prestar serviços gratuitos ao senhor- sociedade feudal.
c) Em que a relação de produção toma a
forma de relação patrão-assalariado. Tendo surgido com as transformações
económicas provocadas pela revolução comercial que originou maior procura de
mão-de-obra e a consequente passagem dos servos a condição de assalariado,
situação que acelerou-se com a proletarização e pauperização da mão-de-obra
provocada pela revolução industrial - sociedade
capitalista.
A
superestrutura que diz respeito a política, a ideologia, a jurisdição ( o
mundo de ideais).
Segundo o marxismo a superestrutura é
o reflexo da infra-estrutura dai podemos dizer que é a própria dinâmica social
de um povo ou de uma nação que dita a sua mentalidade. Já Karl Marx tinha dito
que não é a consciência do homem que determina a sua existência social mas sim a sua existência social determina a
sua consciência.
Pelo que o marxismo defende que são as
relações de produção a base explicativa da sociedade. Todo aparelho ideológico,
todas as tendências culturais, religiosas e políticas são o reflexo destas estruturas sócio-económicas.
Estes pressupostos conduzem a uma concepção de evolução histórica cuja as
premissas seriam: a historia das sociedades humanas revela uma sucessão de modos
de produção : comunismo primitivo, produção esclavagita, produção feudal e produção capitalista; em cada modo de
produção a estrutura económica impõe-se a superestrutura jurídico, político e ideológico. Embora haja
reacção de todos estes factores numa perspectiva materialista a historia é
globalizante ( total); a passagem de um modo de produção ao seguinte é
suscitada pela oposição, contradição existente na infra-estrutura económica,
quando as forças produtivas entram em confronto com as relações de produção. É
a dialéctica força motora da história, materializada na luta de classe que Marx
considerou de motor da historia; no processo histórico extraem-se leis de
evolução que permitem prever o futuro da humanidade, segundo Marx seria a
eliminação da burguesia pelo proletariado e o estabelecimento de uma sociedade
sem classes, sem estado com a qual o homem alcançaria a liberdade.
O método historiográfico usado foi o
método dialéctico herdado de Hegel e
transposto do estudo das ideias para o estudo da realidade social. Para Marx o
processo dialéctico não tinha lugar no mundo abstracto das ideais mas sim no mundo material das coisas dai que
considera que nada existe em situação estática tudo esta num processo de evolução
pelo que propõem um certo finalismo- a síntese suprema- o comunismo
5.2.1.
Influência do materialismo histórico a historiografia do século XX
Em
primeiro lugar,
reflectia e simultaneamente estimula uma nova orientação de investigação
histórica quer doravante se afastaria da análise descritiva de acontecimentos
insolados – na maior parte de ordem política para se consagrar a investigação
de processos sociais e económicos complexos de grande amplitude; em segundo lugar, ele ajuda o
historiador a tomar consciência da necessidade de estudar as condições matérias
da existência dos homens, e a história das técnicas e do desenvolvimento
histórico no contexto global das relações industriais e não como mero fenómenos
insolados; em terceiro lugar, o
marxismo convidava a estudar o papel das massas na história, mas
particularmente nas épocas da desordem social e política; em quarto lugar, o conceito marxista da estrutura de classe e de
investigação de Marx, sob a luta de classe não só viria a exercer uma
influência profunda sobre os estudos históricos como também em certos pontos
particulares chamariam atenção do historiadores para o estudo da formação de
classes na origem da sociedade burguesa ocidental, e para a investigação de
processos analógicos noutros sistemas nomeadamente nas sociedades que baseiam na escravatura e no feudalismo; em quinto lugar, o marxismo desempenhou um papel importante
renovando o interesse desempenhado nas premissas teóricas da investigação
histórica e a teoria da historia em
geral. Para Marx a historia é simultaneamente um processo natural obedecendo a
leis definidas e a um drama universal escrito e representado pelo próprio
homem. Se Marx e Engels sublinham que o historiador não pode contenta-se em
conseguir a sequência cronológica dos acontecimentos. Deve encontrar para eles
uma explicação teórica utilizando para isso todo o aparelho conceptual, por
outro lado afirma categoricamente: que de modo algum estas abstracções dão uma
receita um esquema segundo o qual se possam arrumar as épocas históricas.
Esta historiografia é criticada pelo
estabelecimento do primado da economia na explicação histórica, isto, é, a
sobrevalorização das estruturas económicas ( infra-estrutura) sobre as
restantes; pela tendência de colocar a infra-estrutura as mentalidade como
ponto fulcral da evolução histórica e pela crença numa historia de evolução
linear na medida que o marxismo
considera que todo o processo histórico se constrói na base de um único modelo
de evolução- os modo de produção.
5.3. HISTORIOGRAFIA POSITIVISTA
O Positivismo é uma corrente
historiografia que surgiu na II metade do século XIX como reacção ao Romantismo
cujo fundador e principal interprete foi o filosofo francês Augusto Comte (1798-1857).
Segundo Comte, a filosofia do
Positivismo baseia-se em três fases ou estádios de evolução do pensamento
humano:
- Fase
teológica a explicação dos fenómenos é atribuído as causas sobrenaturais ou
seja a causa dos fenómenos é atribuída a Deus ou aos deuses e corresponde ao
estado teocrático.
- Fase
metafísica a explicação dos fenómenos é atribuído a causas vagas e
fictícias e corresponde ao Estado anárquico.
- Fase
positiva a explicação dos fenómenos é atribuído a causas naturais e compete
as ciências a sua descoberta e corresponde ao Estado sociocrático.
Alguns historiadores consideravam que
Comte ao dividir a história em três fases inaugurou o Positivismo liberal
voltado aos factos mentais e intelectuais.
Portanto, Augusto Comte o reformador,
foi quem lançou as bases do positivismo sociologial que encontramos no século
XIX. O Cientismo ou seja o culto
pela ciência devido precisamente ao
seu desenvolvimento do século XIX onde nos encontramos num progresso técnico (
época da II fase revolução industrial).
Para os positivistas a história é uma
ciência do homem e não da natureza. O
processo histórico é na sua origem idêntico ao processo natural. Para tal,
devia-se aplicar à história a base do método das ciências da natureza para que esta se torne uma ciência positiva.
Neste contexto, admitiam que em história podiam ser elaboradas leis que seriam
eternas, universais e globais. Estamos aqui perante a valorização da
experiência em detrimento da razão. Os positivistas queriam colocar a história
a par das chamadas ciências exactas.
Em termos de objecto, a concepção
historiografia do positivismo era uma concepção atomistica da história ou seja um estudo dos factos insolados,
fazia-se o estudo exclusivo dos factos políticos e o tempo utilizado era o
tempo breve ( de curta duração) como lhe chamou Fernando Brandel.
Defendendo a concepção da
objectividade total ( passividade do historiador em relação as fontes) os
positivistas em termos epistemológicos supervalorizam o objecto e desprezam
totalmente o sujeito na ânsia de promoverem uma ciência exacta das coisas do
espirito ( narrar os acontecimentos passados tal e qual como na realidade aconteceram).
Portanto, o historiador era
omnipresente, que não emite juízos de valores sobre os factos devendo dizer
apenas o que eram. Cada facto para além
de ser considerado independente do conjunto era também considerado do próprio
sujeito.
Quanto ao método foi influenciado pelo método
das ciências da natureza, divide-se em duas fases:
- 1° determinação dos factos.
- 2°
estabelecimento das leis.
Duma forma sintética a esta
historiografia caracteriza-se: pela defesa
de uma história possível de estabelecer leis de evolução; defesa do cientismo histórico (previsão que
se faz pelas ciências exactas ), através da observação dos factos históricos
contidos no documento ; defesa do facto único, isto é, os factos não devem ser
associados, devem ser analisados isoladamente; factos políticos entre factos
políticos, factos económicos entre factos económicos (...); defendem uma
crítica exigente às fontes muito semelhante
as da ciências naturais ou objectivas; é adepta da objectividade absoluta
(fazer história consiste em abstrair-se de factos do seu conhecimento); reduz a
concepção do documento histórico que por exigência metodológica passa a ser
fundamentalmente escrito; pretende obter do passado uma imagem mas próxima
possível daquela que seria conseguida pela observação directa; privilegia
eventos de Índole político militar e diplomático; defesa do facto único não
integrado em conjuntos homogéneos ou sérias; defende dois géneros de narrativa
histórica: o de história episódica ou de história quadro.
Esta historiografia é criticada pela
sua exigência de objectividade absoluta que vedavam ao historiador positivista
tanto a parcialidade como o juízo de valor ou seja o historiador positivista
supervaloriza o objecto e renega o sujeito como elemento activo na construção
do passado humano. A historiografia positivista tinha uma concepção atomistica
dos factos históricos na medida em que supunha que eles podiam ser analisado um
a um separadamente uns dos outros como se constituíssem unidades
autónomas; o positivismo pretendia
aplicar à história, os métodos das ciências naturais, tendo em
vista transformá-la numa ciência regida por leis naturais (defende método da
experimentação). Em vez de conceberem a historia em termos de evolução, os
positivistas concebiam-na em termos de sucessão, pois para eles, as fontes
históricas reduziam-se ao documento escrito; privilegiavam grandes e ou
acontecimento político, militares e diplomáticos que respondiam as exigências dos
três estados, limitando o âmbito histórico.
Foi a partir destas insuficiências que
ainda na segunda metade do mesmo século a historiografia positivista começa a
ser posta em questão. Foi
nesta perspectiva que surgiu na Alemanha em reacção ao positivismo uma nova corrente historiografia- o
Historicismo.
5.4. Historiografia
Historicista
Esta corrente
historiográfica surge na segunda metade do século XIX na Alemanha em reação ao
Positivismo. O fundador foi Leopold Von
Ranke – percursor que viveu entre 1795 a 1886. Foi defendida na Inglaterra
pelo ColilngWood, na França pelo Raimond
Aron e na Itália pelo Benedeto Croce.
O principal aspecto de
discórdia entre esta corrente e o Positivismo reside no facto de, os
positivistas defenderem a existências de leis de evolução das sociedades,
enquanto que para os historicistas não é possível estabelecer tais leis no processo histórico por haver uma
diferença entre as ciências naturais e históricas, ou seja, entre o conhecimento
pelas ciências da natureza e o conhecimento dado pelas ciências do homem, pois
que nas primeiras o conhecimento é universal nas segundas o conhecimento é
singular e não se repete.
O outro aspecto importante
é o estatuto atribuido ao historiador: para os positivistas, o historiador é um mero observador dos factos, isto é, ele
toma um papel passivo perante as fontes. Quem deve fazer a análise e
interpretção, é a Sociologia visto que para eles a história é auxiliar da
Sociologia. Os historicistas sobrevalorizam o historiador, isto é, ele deve interpretar
e analisar os factos recolhidos; ele deve tomar um papel activo perante as
fontes (documento escrito).
Portanto, os historicistas
defendem que o conhecimeto é relativo e subjectivo porque depende muito da
personalidade do historiador, ou seja, não há uma única verdade histórica, tudo
depende da capacidade de análise de cada um.
Assim, para os
historicistas a intuição é o principal método a utilizar na investigação
histórica e para compreender um determinado facto, o historiador deve explicar,
justificar e interpretar. Exige-se que ele faça a relação dos acontecimentos.
Dado o carácter subjectivo
e relativo defendido pelos historicistas, a prior Croce negou o carácter
cintífico à história: afirmando que “ a história é uma arte”, em que a partir
dela podemos fazer várias leituras em função da situação de quem a faz.
Como essa tese não tivesse
sustento, Croce acabou aceitando o car’acter científico da história visto que esta apresenta um objecto e um método de
estudo.
A metodologia utilizada quanto
à pesquisa histórica é a crítica filológica (heurística, crítica externa e
internna ou hermeneutica).
Em relação ao objecto, é
sobretudo o estudo dos aspectos políticos – História factológica – factos
breves, embora os aspectos culturais tenham também a sua importância.
Dada a import6ancia que a
personagem histórica adquire, devenvolvem-se nesta época biografias.
Ầ corrente historiográfica
historicista critica-se o total subjectivismo que proclama, a supremacia do
sujeito em relação ao objecto. Situação que leva a exageros que são criticados
polo Lucien febre ao afirmar que os hiastoriadores positivistas transformaram-se
em processadores, ora criticando as personagens ora elogiando-os.
Creitica-se ainda pelo
facto de os historicistas terem reduzido a história aos factos de índole
político- militar e institucional e a tendência para a recolha monográfica
destes, negligenciando os aspectos de ordem económica, social e cultural. E por
ter dado o primato às fontes escritas tal como os positivistas.
5.5. Historiografia
do século XX
5.5.1.A
crise da história nos finais do século XIX
Até finais do século XIX, ainda vigorava
o modelo Positivista tradicional, não osbtante ter sido enriquecido pelo modelo
historicista, ao negar o estabelecimento de leis em história e ao valorizar o
papel do sujeito na elaboração da história (relatividade e subjectividade).
Mesmo com a emergência das ciências
sociais na segunda metade do século XIX, (sociologia, Geografia Humana,
Psicologia, etc), a história continuava a “mãe” uma espécie de dona e senhora
do conhecimento humano. Até esta fase a história confinava-se pyura e
simplesmente nos aspectos institucionais, políticos e culturais,
característicoa do movimento positivista.
Este estatuto privilegiado da
história, sofre embates e críticas que se aprofundaram nas primeiras décadas do
século XX.
5.5.2.
Factores da Crise
1
Emergência das correntes historiográficas__ Marx e Engels trazem uma nova concepção da história ( materialista), onde acentuam o
papel das massas e não dos indivíduos, a preferência pelo estudo das economias
e sociedades em lugar dos aspectos políticos.
François Simiand, economista e
sociólogo, denúncia três ídolos dos historiadores então em vigor:
·
Ídolo
político que os leva a dar importância
exagerada aos aspectos políticos, guerras, etc.
·
Ídolo
individual ou a história de ordenar as pesquisas em torno de um indivíduo e não
dos fenómenos sociais,
·
Ídolo
cronológico, o hábito de se perderem no estudo da origem do passado.
2
Evolução científica - o rápido e extraordinário progresso sobretudo das ciências naturais revoluciona
os quadros do saber estabelecidos. O saber deixa de ser um dado feito, acabado,
para se encontrar continuamente em mudança, com os homens, isto é, o saber
deixa de ser estático, mas sim susceptível a mudanças.
3 Emergência
das Ciências humanas e sociais - Na
segunda metade do século XIX, a história perde a exclusividade do cohecimento
com a emergências denovas ciências que vão compartilhar o homem como objecto de
estudo. Por exemplo a Sociologia de Durkein
que estuda a comparação genética dos grupos sociais; a Geografia Humana de
Vidal de la Blanch ,
luta pela inserção do homem no espaço; a Antropologia que estuda o homem a
partir das suas produções e reproduções.
Portanto, a crescente importância
destas ciências sociais, colocaram aos historidores três grandes problemas:
·
A
definição e delimitação do conteúdo específico da História;
·
Reformulação
da sua função objectiva nas sociedades hodiernas;
·
Metodologia.
5 O
impacto das Novas Condições históricas resultantes da I e da II guerras
Mundiais – Se compararmos a situação
mundial e alargarmos o nosso horizonte para comparar a situação do mundo na
década de 50. quatro grandes mudanças se revelaram imediatamente:
·
Nada
se produz doravante numa parte do globo que não tenha nenhuma repercussão nas
outras partes;
·
O
progresso da ciência e da técnica, impõe por parte uma nova forma de sociedade
e novos pensamentos: Ex, a invenção do computador no Ocidente impôs uma nova
vida, forma de pensar, investigar, aos povos do mundo.
·
Houve
queda da preponderância europeia em benefício de outros continentes;
·
Enquanto
no início do século XX, o regime democrático progredia sem encontrar
contrastes, 60 anos depois, o comunismo que até 1930 restringia-se ao espaço
soviético, estendia-se a 1/3 da população do globo.
Face a este todo cenário, os
historiadores tradicionais viram-se obrigados a se redimirem do seu modelo com
vista e se adequarem às novas realidades do mundo.
5.5.3.
Os Novos Rumos da História do século XX
A partir do Século XX (1929), com a
publicação da revista “Annales” por Lucien Febre e Marc Bloch, é combatido o
modelo positivista em vigor.
A partir das críticas feitas ao
Positivismo, deduzem-se as sehuintes coordenas da História Nova:
1
O alargamento do campo do historiador,
isto é, defesa de uma história total, uma história que abarque todos aspectos
humanos;
2
Alargamento do conceito de conceito de documento histórico, isto é, o documento histórico é tudo
o que exprime o homem;
3
Aparecimento da história problema e a valorização do papel do
historiador na construção da história. A investigação histórica deve partir de
um problema, não de um documento como dfendiam os positivistas;
4 Alargamento
cronológico e geográfico da história –
a história não é só o passado, mas sim o passado para comnpreender o
presente e prespectivar o futuro. É uma
história universal, não só e só europeia.
5 Defesa
da Interdisciplinaridade, isto é, se a História deve ser total, é imperiosa
que ela mantinha um diálogo interdisciplinar com as outras ciências.
6 Com a morte dos dois fundadores da
revista Annales, os destinos da Escola Nova ficaram na responsabilidade de Ferdinand Braudel que vai introduzir uma nova dimensão do tempo
histórico nomeadamente:
- Tempo
curto ou tempo dos acontecimentos, relativoa à questões de guerras;
- Tempo
médio ou tempo das conjunturas, relitivos a variações cíclicas não
superiores a um século;
- Tempo
longo ou tempo das estruturas, variações cíclicas de mais de um século.
6.
Historiografia africana
Durante muito tempo, mitos e
preconceitos de toda espécie, ocultaram ao mundo a verdadeira história de África.
As sociedade africanas eram vistas como sociedades que não podiam ter história.
Apesar de importantes trabalhos realizados desde as primeiras décadas do século
XX por pioneiros como Leo Frobeniuns, Maurice Delafosse, M˙ Bow (1991), aponta
que um grande número de estudiosos não-fricanos, presos a certos postulados,
afirmava que essas sociedade não podiam ser objecto de um estudo científico,
devido, sobretudo, à auxência de fontes e de documentos escritos.
Negava-se à tradição oral africana,
memória de povos que fornece a trama de muitos povos que marcaram suas vidas. Para escrever a
história de grande parte da África, recorria-se somente a fontes exteriores ao
continente, e o resultado era uma visão não do que podia ter sido o percurso
dos povos africanos, mas do que se pensava que ele devia ter sido. Sendo a
Idade Média europeia frequentemente tomada como ponto de referência, os modos
de produção as relações sociais e as instituições políticas eram analisadas
somente em relação ao passado europeu.
De facto, havia uma recusa a
considerar o povo africano como criador de culturas originais que froresceram e
se perpectuaram através dos séculos por caminhos próprios, as quais os
historiadores, a menos que abandonem certos preconceitose renovem seus métodos
de abordagem, não podem aprender.
M˙ Bow (op cit), aponta que o
continente africano quase nunca era considerado uma entidade histórica.
Enfatisa-se a ideia de que em tempos muitíssimo remotos, havia uma cisão entre
a África branca e a África negra, que se ignoravam mutuamente.
Os esforços dos africanos para
conquistar ou reforçar sua independência, assegurar seu desenvolvimento e
consolidar suas especificidades culturais devem estar enraizadas numa
consciência histórica renovada, e intensamente vivida e assumida de geração em
geração.
Um outro fenómeno que causou grandes prejuízos ao estudo objectivo do
passado africano foi o aparecimento com o trafico negreiro e colonização, de
estereótipos raciais geradores de desprezos e de incompreensão e tão profundamente
arraigados que chegaram a falsear os
próprios conceitos da historiografias. Com a introdução de noções de “brancos”
e “negros” para nomear de forma genérica os colonizadores – vistos como
superiores – e os colonizados, os africanos tiveram de lutar contra uma dupla
servidão a humana e a psicológica. Este processo de falsa identificação reduz a
historia dos povos africanos a uma etno-história, na qual a apreciação das
realidades históricas e culturais só poderia ser deformada.
Com tudo, a partir do final da segunda
guerra mundial, em particular, desde que os países africanos, tendo conquistado
sua independência, começaram participar activamente da vida da comunidade
internacional e dos intercâmbios que ela implica. Um numero considerado dos
historiadores empenha-se em abordar a historia de africa com maior rigor,
objectividade e imparcialidade, utilizando, com as suas precauções, fontes
africanas originais. No exercício do seu direito a iniciativa histórica, os
próprios africanos sentiram profundamente a necessidade de restabelecer em
bases sólidas a historicidade de suas sociedades.
Segundo Fage (1995) a historiografia africana evoluiu em quatro
grandes fases nomeadamente:
·
Fase
da evolução do continente africano (1737-1884) – é a fase que temos uma
historia imparcial, descritiva e por veses pormenorizada acerca dos povos
africanos, o seu meio, os símbolos políticos, o desenvolvimento económico a
evolução da sociedade, a cultura e religião. É uma história de profissionais
ligados às sociedades de geografia e de antropologia que se desenvolveram na
Inglaterra, França, Portugal e Bélgica. Ele considera o ano de 1737 como ponto
de partida porque esta data marca a criação de instituições de investigação
científica sobre África, início da publicação de obras sobre África.
·
Criação
das administrações coloniais (1885-1920) – é a fase da integração euro
centrista da africa nas historias dos impérios coloniais e a utilização dps
resultados das investigações dos exploradores da fase anterior. É aqui desenvolvida
a teoria euro centrista segundo a qual o africano antes do contacto com o
europeu não tinha historia.
Nesta fase a um
desenvolvimento de estudos etno-antropológico sobre África. Muitos
historiadores adiantam que a ciência que poderia estudar a África seria a
antropologia porque não há em África nebhuma escruta para a reconstituição do
passado. Análise do impacto da acção
colonial através de identificação de problemas de ordem ambiental, social e
cultural que dificultam os resultados esperados. Há discrições de campanhas de
pacificação, isto é, pacificar o africano e ocupa-lo. A inicio de estudos
aprofundados sobre a religião dos povos colonizados, estudos estes da
competência dos missionários cujos resultados são usados para p+ropositos de
explorações coloniais.
·
Métodos
de colonização (1920-1960) segundo Fhilipe Curtin, citado por Fage esta fase é
rica tanto em fontes como em
temas. Em termos de fonte destacam-se os recenseamentos e os
relatórios dos administradores coloniais que contêm realidades politicas,
sociais e culturais do povo africano. Criação de centros de investigação
científica nas colónias em cordenação com as metrópoles e a criação de revistas
especializadas.
A produção de monografias com valor
científicos por vezes com exageros etnocentristas, isto, é, valorização
excessiva das realizações africanas
(afro centrismo). Realça-se que o afrocentrismo é também racista pois
sobrevaloriza a raça africana em detrimento das outras.
·
Descolonização
– identidades africanas (1960-nossos dias) – a emergência de estratégias
nacionais de desenvolvimento e do discurso politico (ideologias) que passam a
interferir na análise histórica africana.
O recurso aos estudos coloniais do
período anterior embora equacionados com as exigências do patriotismo, coordenação
regional no domínio da pesquisa cientifica e como fruto temos oito volumes da
historia geral da UNESCO. Opção de macro-analises em detrimento de
micro-análises por falta de vontade politica ou de domínio técnico relativo a
micro-análises, isto é, escrevem-se histórias nacionais, não regionais para
evitar revoltas tribais.
7. Historiografia
moçambicana
Segundo Capela 1991 apud Mussa (2006),
em História é preciso questionar e problematizar. Por exemplo, a história
escrita ontem sob regime monopartidário, era uma história prenhe de um discurso
ideológico do partido no poder, sob alicerce do marxismo-leninismo, visando a
glória e o teiunfo das acções do regime da “revolução Socialista moçambicana
que vigorou até 1990.
Era uma história que defendia a criação
de um homem novo. Capela fundamenta-se na História mo,cambicana da autoria
do Departamento de História da UEM, que
de forma visível regista as suas páginas o seguinte (...) Esta é uma história
de Moçambique. Tem e toma partido, tem e toma posição (...) Capela
(1991:10-11).
É uma história pecaminosa pelo facto
de não investigar de forma pormenorizada temas importantes como a autoridades
tradicionais e instituições políticas em Moçambique, a cultura, a religião e a
economia de Moçambique, nos seus diversos
aspectos e em diferentes partes do país em cada época. As religiões endógenas
africanas nos manuais de História de Moçambique, são tratados como religiões
m’agico-religiosas ou animistas apoiadas na feitiçaria e na magia.
Em contrapartida, poucos são os
moçambicanos que não recorrem a tais religiões para invocação dos espíritos dos
antepassados.
Um outro constrangimento da
historiografia moçambicana é o de construir um edifício histórico para alojar
os heróis da luta de libertação nacional, para desmascarar os colaboradores do
colonislismo e motivar as novas gera,cões a aceitarem os princípios ideológocos
do Regime Revolucionário insituido depois de 1975.
Os intelectuais que se não
identificassem pelos novos ideias na Revolução Moçambicana, eram simplesmente
excluidos e ignorados. Foi o caso de Kampa Simango, por exemplo, que em nehuma
fase da História de Moçambique se fala deste grande intelectuual.
Ao ler os manuais da História de
Moçambique sobre os reinos e império locais, os casos de Báruè, Matola, Fuma,
Nhaca, Machaquene, Tembe Mataca e outros no Sul, Norte e Centro, não são
estudados com a profundiadde requerida.
Porém, investiu-se e continua a se
investir na pesquisa profunda sobre o estado de Gaza. O que estará a motivar
esta postura? Terá sido a falta de fontes com credibilidade sobre estas
unidades políticas ou é uma lacuna propositada?
Os Sultanatos de Angoche, os Xeicados
de Moma, Sancul, Sangage e a Ilha de Moçambique, a penas são tratados como
simples epicentos do tráfico de escravos em Moçambique. Em Contrapartida,
sabe-se hoje que o comércio de escravos chegou a ser praticado em Inhambane.
Quando se faz a abordagem sobre o
papel da Igreja na forma,cão e educação dos moçambicanos, tenta se mostrar e
provar que a Igreja católica, em Moçambique apenas apoiou o colonialismo, nada
fez pelo homem moçambicano, o que n~ao constitui a verdade, pois não é menos
verdade que nas zonas rurais, esta Igreja muito serviu às populações em
assistência sanitária e na educação. Por exemplo, aos grandes professores que
ensinavam aos indígenas eram formados pela Igreja Católica. Dirigentes da
Frelimo, do Governo e mesmo da Renamo e outros partidos políticos moçambicanos,
fizeram os seus estudios iniciais sob
tutela da Igreja Católica.
Como proposta para suprir estes
problemas, talvez fosse uma mais valia que os trabalhos de diplomas de
estudantes da UEM, UP e mais e tentar publicá-los. Daí resultaria uma história
escrita por nós e para nós.
Bibliography
1. Bíblia
Sagrada, Géneses Cpítulo1: dos Versículos 1-27
2. BORGES, Vavy Pacheco. O que é a história. São Paulo:
Editora Brasiliense, 1993.
3. CORREIA,
Pedro J. Alves. O Cristianismo e a Mensagem Evangélica, 2ª Ediç. Lisboa:
Biblioteca Cosmos, 1944.
4. Enciclopédia Microsoft® Encarta®. ©
1993-2001
5. FAGE, J.D. História
de África. Lisboa: Edições 70, 1995.
6. GOMES, Raul Rodrigues. Introdução
ao Pensamento Histórico. Lisboa:Horizonte,1988.
7. GOMES, Raul Rodrigues. Introdução ao pensamento histórico.
Lisboa: Horizonte, 1988.
8 M˙ BOW, M, Amadou Mahtar. Prefacio. In
Historia geral de África vol VII. África sobre dominação colonial 1880-1935.
São Paulo: Ática, 1991.
9. MUSSA, Carlos. História e
Historiografia: Breve Introdução ao Estudo da História. (Sebenta de
História), Maputo: s/ed,2006.
10. COOLINGWOOD,
R. G. A Ideia de História Lisboa:
Presença, 1981.
11. http://WWW.Franciscotrindade.com/outros
acesso em 14/9/07
O material é bastante rico com temáticas excelentes
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