O povo Sena (do centro de Moçambique)

1.      Introdução
O presente trabalho aborda sobre O Povo Sena. No decorrer do trabalho, procuraremos enfatizar os aspectos tais como:
Ø  A educação tradicional;
Ø  A morte, funerais e as cerimónias de purificação entre os Senas;
Ø  História da origem;
Ø  O impacto da religião tradicional na formação e afirmação da cultura;
Ø  O parentesco, casamento, o lobolo e a organização social e;
Ø  O sistema jurídico tradicional.
Para já é importante alçar que o Povo Sena, é de longa data e, com uma tradição vasta e rica. O povo Sena faz parte dos povos de Moçambique, presente em quase todo país. O povo Sena é de extrema importância na história de Moçambique principalmente na arena antropológica.


2.      História do povo Sena
Dois terço da população da companhia de Moçambique adoptou o chisena.. A palavra `Sena parece ser uma corrupção das palavras «Siona» ou «Chona».(MEQUES, J. Domingos: 199 p.2)
O chisena é uma língua banta, falada nas margens do Zambeze, desde o Chinde ate Tambara. O número total dos falantes é relativamente elevado, cerca de 30.000…. O futuro do chiSena esta em ser a língua franca do rio Zambeze. (ibidem)
De um ponto de vista histórico o estudo da língua Chissena é de maior interesse. Foi com esta língua que os primeiros portugueses que subiram pelo rio Zambeze se familiarizavam para se introduzirem depois na própria corte é Monomotapa. Uma pequena gramática da língua chisessena, do século XVII, foi encontrada nas bibliotecas da Lisboa, e foram publicadas em 1920. (idem)
O povo assena é um povo agrícola. Pela sua miscigenação com os portugueses originou-se uma raça mista entre eles. (ibidem) 
2.1.Cultura material
2.1.1.      Roupa tradicional
A roupa tradicional do povo Sena foi muito influenciada pelos árabes que fizeram o primeiro negócio no rio Zambeze. Os utilizavam kaphndu, um lençol que passava entre os pernas e foi amarado, junto com uma camisa comprida. As mulheres ricas utilizam roupa comprida com mangas compridas. (ibidem, p.40)
Quando uma mulher veste-se desta maneira ninguém critica. É bem vestida. As meninas são obrigadas de manter os seios cobertos. Depois das cerimónias de gravidez (makhurudzu) a senhora já não tem esta obrigação. (idem)
2.1.2.      A beleza da mulher: tatuagem
Depois das cerimónias de iniciação das meninas havia tatuagem de vários tipos: necente, nas pernas, cikudzire, na coluna, n`sago, no braço; n`kwenyabwerera, nos ombros; pithatha, na barriga; e maborosa, nas costelas. Havia tatuagem na cara para identificar o povo sena, mas pequenas tatuagens, não muitas como faz o povo makonde.

2.1.3.      Tipos de comida
Bambaya – Batata-doce; Mbawala - Gazelamais alta
Cimbamba - feijão
Macuwere - milho pequeno
Mafuta – óleo
Mpunga - arroz
Murumbi - milho muito pequeno
Nkati - pão
Nsima - farinha cozinhada
Nsomba - carne ou peixe….
2.1.4.       A construção de casa
O povo sena tem dois tipos de casas tradicionais: nyumba ya ndzulu (tipo primeiro andar) e nyumba ya pantsi (construída no chão). (ibidem, p.42)
O primeiro tipo constrói-se da seguinte maneira:
• Mante-se mphanda na terra. São as colunas que levantam a casa para cima. Depois metem-se vigas transversais chamadas miamba. As tábuas do chão chamam-se waliso ou waliro. Deixam-se as tábuas estender-se para fazer um tipo de varada mbidza.(idem)
• Depois de erguer - se outra coluna, chamadas manjingo. A coluna principal no meio do chão que vai para o tecto chama-se mitanda a machiru, que significa “ onde ocorre o rato”
Para fazer o tecto, estendem-se estacas principais chaadas miyendo e outras estacas chamada m`palopalo,. Se todas estacas vão para o centro (o tecto é quadrado). Se o tecto é rectângulo, a viga principal em cima do tecto chama-se khasa. O tecto faz de capim amarrado em molho, chamado phembo.
Cobre-se a casa com o capim chamado nsanzi. As vezes fazem uma porta feita de caniço (mitete) chamada liseko.(ibidem, p.43)
No segundo tipo de casa, nyumba ya pantsi, utilizam colunas macikua. As paredes são feitas de capim, chamado nfufu . As vezes fazem pequenos buracos (janelas) para espreitar fora chamado mampego. (idem)  
São sempre os homens que fazem a construção, mas as mulheres podem limpar o sítio antes de construir.
Na construção de outras casas, os vizinhos ajudam a família construir, e a família prepara comida para o evento.
2.1.5.      Danças culturas
As danças tradicionais que não tem nada a ver com os demónios, mas simplesmente fazem parte do património cultural do povo Sena. As danças do povo Sena distintivas e facilmente reconhecidas. Todos sabem que aquele estilo é Sena. (ibidem, p. 43)
Também comemora-se nos eventos e datas na história. Fazem lembrar o que passou.
a)      Sedo: uma dança que usa 9 batuques de várias alturas, dançando quando alguém morrer., depôs do enterro. Os participantes põe mascaras, como fosse carnaval e para animar e aliviaras pessoas.
b)      Use: uma dança de tristeza, com um só batuque. Dança-se durante funerais, antes do enterro.
c)      Djagadja: dança-se com máscaras (mas não com tantas máscaras) para alegrar pessoa depois de morrer. Usam três (3) batuques, e todos os homens e mulheres que sabem dançar podem participar.
d)     Manyalala: uma dança das mulheres dançada quando uma noiva casa-se. É educativo; as mulheres cantam para ensinar o casal que tem que ter respeito.
e)      Ngundula: uma Dança para todos, com três (3) batuque, para jovens em festas quaisquer.
As danças podem ser substituída nas igrejas com coros ou conjuntos de musicais para jovens. Os jovens não praticam estas danças, mas podem utilizar os instrumentos musicais (como o mbango para cantar o senhor). (ibidem, p. 45)



2.2.Pithankano: contos educativos
O objectivo do conto educativo foi ensinar valores importantes as crianças. Este tipo de conto tem uma sessão em que aquela pessoa que conta a história canta uma pequena canção, com respostas antatas pelos ouvintes. (ibidem, p. 46)
O Sistema jurídico Tradicional dos Senas
Falando do sistema jurídico, refere-se a normas oficiais interdependentes que, portanto, reunidas segundo um princípio unificador e tem como finalidade de dar disciplina a convivência social e preceituar a conduta dos indivíduos.
Sendo assim, falando e tocando a parte particular e peculiar da cultura ou do grupo etnolinguístico a/ou dos Senas, importa fazer uma menção de que a tal cultura, tem sua maneira de julgar, para manterem a sua convivência em ordem.
Na cultura referida, há uma presença do Nhänkwawa (traduzindo: Regulo ou Líder), que portanto, tem o poder de julgar.

3.      O Sistema jurídico Tradicional dos Senas
Falando do sistema jurídico, refere-se a normas oficiais interdependentes que, portanto, reunidas segundo um princípio unificador e tem como finalidade de dar disciplina a convivência social e preceituar a conduta dos indivíduos.
Sendo assim, falando e tocando a parte particular e peculiar da cultura ou do grupo etnolinguístico a/ou dos Senas, importa fazer uma menção de que a tal cultura, tem sua maneira de julgar, para manterem a sua convivência em ordem.
Na cultura referida, há uma presença do Nhänkwawa (traduzindo: Regulo ou Líder), que portanto, tem o poder de julgar.
3.1.O tribunal de Mwavi
Para o decorrer do julgamento, os Senas, tem sua casa que serve de julgamento, a chamada “Tribunal de Mwavi”, entretanto, é o Nkumbasa que faz o Tribunal de Mwavi. Também é chamado de Saphenda, porque ferve a palha numa caixinha chamada, portanto, phenda.
Se por acaso numa área (a dos senas) entrar um leão, o mambo convoca a participação de todos para se reunir, este, porem, dizia: ` mulheres têm que fazer uma viagem chamada likwekwe` (ibidem p.16).

4.       Casamento: Macungudzo
O casamento tradicional entre o povo sena realiza-se da seguinte maneira: o rapaz que quer casar fala com um medianeiro, que convida meninas recomendadas, de bom comportamento, para casa. O medianeiro do rapaz a cada convidada, «vem pilar»! O rapaz escolhe uma menina entre elas e fala com o medianeiro sobre a escolha dele. A menina recebe um sinal dele, que ela mostra aos pais delas. Depois, o rapaz dá um outro sinal a ela. (P.23)
Nesta altura, os pais d menina e oferecem mio rapaz visitam os pais da menina e dão mais um sinal a menina. Ela entrega isso aos pais dela para mostrar que ela aceita de livre vontade o casamento. As vezes, os pais do rapaz entregam o lobolo (pagamento tradicional) aos pais da menina durante a visita. Combinam o dia do casamento. (P.23)
Quando a menina é muito nova, fazem uma cerimónia na altura em que atinge a idade para casar, chamada kudyesana. (P.25)
Casam-se seis meses até um ano depois deste encontro entre as famílias. Durante este período, a menina está sempre acompanhada por uma irmã quando visita o rapaz ou em cas dos sogros. O dia do casamento pode ser combinado pelas duas famílias para ter uma grande festa, ou pode ser realizada por outra maneira: no dia do casamento, os sogros mandam prendera menina por «surpresa». Ela finge que não quere sair da casa dos pais. Os homens enviados pelos sogros pede água a ela, e quando ela dá, apanham a menina. Levanam-na a casa dos sogros. Ela tem que chorar muito, e parecer que não tem coragem. Os sogros ficam «zangados» com os raptores e devolvem a menina a sua casa.
A madrinha dela e o padrinho do noivo chamam-se mapungo «conselheiros» do casal. A madrinha leva ela até a casa onde ela vai casar ()



5.      Organização Social
5.1.Governo Tradicional
No governo tradicional havia estádios grandes onde reinava o mambo (rei), juntos com ajudante dele (saphanda). Uma assembleia de conselheiros (mathubo) também servia o rei. O nhandal avisava o rei de acordo com o espirito territorial da região. Atras de cada Governo que controlava as decisões do rei. O chefe chama se mweni. (Ibidem p.35)
5.2.Parentesco
Uma pessoa sena pode identificar a sua geneologia a três coisas: dzindza dele (sena), nthupo e o nkhondo. Dentro do ndzindza há vários mithupos. O nthupo ee o nome do louvor do clã, e o nome do tabu associado com o clã. Pode identificar familiares distantes com a pergunta: nthupo anu ndimwe ani. Com a resposta, ndife nthambo.
 
6.      Religião tradicional
6.1.A vida depois da morte
Quando alguém morrer, não é o fim da vida, o povo sena acredita na existência da Deus por natureza. Os antepassados são mediterrânios e os levam a Deus, quando eles rezão têm que por farinha no chão, para todos os escravos mortos, outra farinha para os dos senhores, importantes mortos, e depois outra farinha que represente Deus.
Depois da morte a alma das pessoas boas estão com Deus, e também acreditam que ficam perto para serem contactadospelos vivos. (ibidem p.4)
6.2.Nomes de seres espirituais
a)      Deus verdadeiro: Mulengi é o criador de tudo. (Kulenga, significa criasr). Antigamente o povo sena não conhecia o deus verdadeiro, eles adoravam Mulungo que é muzimo (antepassado) de um grande homem.
b)      Muya: o termo significa vento para os senas, e foi introduzido pelos missionários para referir ao espirito de Deus (muyawa mulungo, ou muyawamulegi) (ibidem p.5)
c)      Nzimo: são espirito dos antepassados mortos. São revinvenciados entre os poucos Sena e são considerados santos. Os muzimo protegem as pessoas vivas, e servem como medicamento entre elas. O povo sena não adora ídolos, apenas constroem casinhas para os muzimo, mas nunca fizeram ídolos (ibidem)
6.3.Nome de demónios
a)      Madzoka: denomina a demónio ou +pessoa endemoniada, é o poder utilizado pelos curandeiros.
b)      Cikwangwali: são demónios muito terríveis, cheios de maldade. O povo tem muito medo deles, eles possuem pessoas sem serem convidados e são muito poderosos.(idem)
NtumwiwaMulengi em sena significa foi enviado, e sérvio para os missionários para denominar anjos. (ibidem p7)
6.4.O Nyandalo: um profeta tradicional
Entre o povo sena existe um homem chamado Nyandalo, este não bebe não fuma, não provoca a ninguém, não é curandeiro nem feiticeiro, ele tem a função de um profeta, onde avisa a população em caso de perigo, e da algumas soluções para os problema que se avizinham.
6.5.Médicos tradicionais (Manganga)
Entre os povos cena existem dois tipos de curandeiros: aquele que cura, somente com ervas e raízes naturais, ele só conhece medicamentos. E aquele que fica endemoniado que sonha, fazadvinhas.

7.      A morte entre os povos sena
Para esta etnia a morte é concebida como algo assaz mente temeraria, fautora de profundas dores e constelações no amago dos perdedores de um dos membros da família (a pessoa mais amada).
Segundo o nosso entrevistado João Caetano líder do Bairro Consito distrito do dondo, ele concebe a morte como o desaparecimento físico de uma pessoa (atendendo e considerando que estamos na perspectiva antropológica).
Mas, por mais que seja dorida como for esta morte, eles estão a qualquer momento consciencializado que pode aparecer a morte a qualquer altura para qualquer um, ficando por este motivo preparados para encara-la, por ser algo natural.

7.1.Funeral
Segundo o mesmo entrevistado, funeral, seria um sistema de actos (cerimonias) praticados no enterro de alguém que perdeu a vida.
Como se realize funeral entre os povos sena?
Quando alguém numa dada sociedade morre, consideram que a família do malogrado encarrou sofrimento, portanto, vão na casa desta família enlutada outros familiares, amigos, inclusive toda comunidade com intuito de comungar a mesma dor e dirimindo a assaz dor da família enlutada, tendo-se aglomerado todos na casa do falecido, a família juntamente com os outros de sentimentos profundos, procuram organizar materiais fúnebres como caixão pode ser tradicional, usam enxada, pá, picareta, catana, as vezes machado para abertura de uma tumba. Depois de preparação da tumba, levam o corpo para o caixão e de seguida procedem para o cemitério local onde será depositado o corpo do malogrado, acompanhando com cânticos fúnebres, podem ser também de carácter religiosos.
No cemitério, eles cantam e fazem orações de despedida do malogrado, e vão assim sepultando o corpo.
Depois do enterro, todos voltam para casa do falecido, para se despedirem com a família em profundas tristezas, sensibilizando-ma desejando a paz e a felicidade. Dai, vão só esperando a cerimónia do sétimo dia, que é a cerimónia de purificação.

8.      Cerimónias de purificação
No tocante a cerimónias de purificação a sra. Ginoveva, uma outra entrevistada, residente do mesmo bairro, e mesmo distrito, sustenta que as cerimónias de purificação actos ou cerimónias praticadas para depurar maus espíritos que talvez provocaram ou terão ficado depois de algo sinistrorso (acidental) ter ocorrido numa casa. Eles consideram que cada fenómeno negativo, de (caracter acidental), tem sua cerimónia específica de purificação. Entretanto são tantas cerimónias, outras são:
-Pita-panhumba, cerimonia realizada por família no caso de haver o desaparecimento físico do marido ou da mulher sendo chefe da família, esta cerimonia, é para purificar a casa e também para substituição do viúvo ou da viúva, para tomar o lugar do malogrado.
-Pita-kufa, Cerimónia de purificação feita através de relações sexuais sem proteção que envolve a viúva que recentemente perdeu seu marido e um homem purificador. Este purificador em normas deve ser irmão do falecido, só na falta do irmão, pode se recorrer a outro qualquer homem de fora habilitado pra tal. Pita-kufa, não pode ser realizado por impotente sexual, porque o não cumprimento de meta, provoca problemas para própria pessoa que arisca e inclusive a própria família enlutada., como doenças constantes, azares e outras mortes. Pita-kufa é realizada em três dias e no mínimo três vezes de actos sexuais por dia.
- Pita-moto são cerimónias realizadas também por actos sexuais quando houver incêndios em casa. Ela é realizada por um casal de casa a fim de esconjurar maus espirito que provocaram o sinistro. Também o não cumprimento do mesmo pode provocar azares e casos congéneres a estes.

  Conclusão
Resta referir-nos que aquando a pesquisa do trabalho feito, constatou-se que o grupo etnolinguístico: a dos Senas, é uma língua banta, falada nas margens do Zambeze, desde o Chinde até Tambara.
Porém, assinalou-se que foi com a língua Sena que os portugueses pioneiros, que se alastraram pelo rio Zambeze, se familiarizavam para se introduzirem depois da corte do Monomotapa.
No tocante do sistema jurídico dos Senas, deslinda-se que estes, julgam os indivíduos duma guisa antagónica e porquê não na dos outros, mas referencia-se que o uso do mwavi é o principal foco do interesse dos senas, sobretudo em prol do julgamento.
No que se alude a organização social, analisou-se que no governo tradicional havia estádios de grandes potenciais onde reinava o mambo ou Rei com seu adjunto (saphanda). Uma assembleia de conselheiros (mathubo) também servia o rei. O nhandal avisava o rei de acordo com o espirito territorial da região. Atras de cada Governo que controlava as decisões do rei. O chefe era invocado por nome de mweni.
Para terminar dizer que o trabalho foi possível por via bibliográfica, fazendo uma interpretação dos textos, assim como a pesquisa efectuada em Dondo no Bairro Consito.


10.  Bibliografia

MEQUE, J. Domingos. Apontamentos da Cultura do Povo Sena, IDLC, Beira, 1999. 

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