Consequências do Capitalismo para a Actualidade
Apresentação
Este
artigo científico, baseia-se num estudo minucioso sobre o capitalismo na
actualidade baseado nos ideais de Karl Marx. As bagatelas que iram ler em
seguida, fazem parte do Resumo, Considerações iniciais e Considerações finais
de uma Monografia Cientifica defendida por Mário Valentim Francisco Langa,
Licenciado em Ensino de Filosofia pela Universidade Pedagógica de Moçambique.
Brevemente a publicação da versão completa da monografia intitulada
originalmente O Capital Em Karl Marx: Uma
Reflexão Filosófica Em Torno Das Consequências Do Capitalismo Para A
Actualidade.
Resumo
Marx pertence aos
hegelianos da esquerda, pois vê em Feuerbach a ligação para qualquer
estudo científico. De Hegel herda a dialéctica e de Feuerbach o materialismo.
Defendeu na sua tese de doutoramento em filosofia, O Materialismo Dialético de
Epicuro e Demócrito. Herdou e cientificou o socialismo de pensadores
Franceses que mais tarde os chamou utópicos. Para Marx o capital surge no
Ocidente Feudal, na fase mercantilista. Com o capital a mostra surge o
capitalismo, que se resume num regime de exploração do homem pelo homem. As
suas consequências são nefastas ao desenvolvimento ético moral, social,
cultural da sociedade. O capitalismo vanglória o acúmulo do capital, egoísmo,
propriedade privada, quebra de relações sociais pelas monetárias e a divisão da
sociedade em duas classes: burguêses e proletários. O Estado alienado na
actualidade desempenha funções iguais a do burguês. Se concentrado apenas na
busca de mais capital, no investimento em infraestruturas, desenvolvimento do
País, em detrimento do crescimento populacional emancipado pela criação e melhoramento
dos sectores sociais tal como educação, saúde e combate a pobreza extrema.
Moçambique como um País capitalista, herda também estas consequências, e as
multiplica com ajuda da globalização universalista Ocidental.
Palavras-chave:
Karl Marx, Capital, Capitalismo, Consequências, Actualidade.
Considerações iniciais
O mundo moderno gira em torno do
capitalismo, é o capitalismo que dita hoje os valores a serem seguidos, valores
estes que vangloriam o individualismo, egoísmo e o amor pelo poder ou acúmulo
capitalista, onde o cidadão moderno não sabe como ser ético num mundo
globalizado (MARX, 1996: 34).
Esta citação foi uma das principais que motivou o
interesse à questão capitalista em Karl Marx, com base nela, reflectimos sobre
o Estado capitalista moderno. Recuar ao passado recente para contextualizar a
ideia de Marx em seu tempo, e retornar a actualidade para conciliar seu
pensamento no contexto moderno actual. O capitalismo hoje atinge um paroxismo
indiscutível, cabe a nós hoje reflcetir em torno das suas consequências
positivas ou negativas para os nossos dias. Desde o tempo em que o capitalismo
surge até aos nossos dias, ele passou por várias transformações e evoluções, e
não deixou, de sustentar as características básicas que o identificam. Como a
liberalização do mercado, e ambição desenfreada pelo acúmulo do capital,
encontra-se na actualidade uma sociedade moderna sem moda para seguir. Quais
são as consequências do capitalismo para a actualidade? Como é que o
capitalismo impulsiona as desigualdades sociais e a divisão da sociedade em
duas classes opostas? Como é caracterizada a exploração homem-homem na
sociedade capitalista? Quais são as consequências da globalização capitalista
na sociedade moçambicana?
A globalização prova ser produto do Ocidente. Ela é confundida
com o conceito da modernidade e destrói as culturas não ocidentais numa
tentativa de universalização da cultura, princípios, instituições ocidentais,
com objectivo de expansão de mercado e obtenção de mais lucros.
Este trabalho de conclusão de curso, tem como foco as
consequências do capitalismo para a actualidade. Partindo de O Capital
em Karl Marx, fazemos análise numa perspectiva de reflexão filosófica
trazendo toda historicidade que acompanhou o processo de evolução capitalista
até aos nossos dias, assim como as bases de produção capitalista, e as classes
diametralmente opostas envolvidas neste processo. O processo de produção
inicia-se com a evolução histórica, onde o homem passa por diversas fases em
contacto com a realidade do seu tempo, buscando sempre em primeiro lugar a
satisfação das suas necessidades, tais como alimentares, vestuário e de lazer.
Com a evolução do mercantilismo ao do capitalismo, o homem foi submetido ao
trabalho assalariado; que ofusca sua liberdade. Marx defende que o trabalhador
só se sente livre no seu tempo de folga, porque o trabalho é imposto, é
ofuscante, é explorador.
No momento em que o trabalhador vende sua única
propriedade (força física), em troca de sobrevivência para os donos dos meios
de produção, estes por sua vez, criam condições de trabalhos exploratórios que
levam a classe trabalhadora à miséria. A questão do trabalho no modo de
produção capitalista é vista na perspectiva marxiana como fonte de exploração
da mão-de-obra do homem por outro homem. Ele precisa de se relacionar com a
natureza e com outros homens como sua característica política. Aristóteles define
o homem como um ser de necessidades. Entra em relação com a natureza e com
outros homens para satisfazer suas necessidades, nisto consiste o materialismo
histórico. O trabalho foi sempre o meio pelo qual o homem satisfez suas
necessidades. Por meio deste ele altera e beneficia-se dos recursos que a
natureza oferece ao seu favor. Contrariamente ao que se vivia no estado natural,
a modernidade para além de trazer o desenvolvimento científico ao homem, também
trouxe a exploração homem-homem.
Com o objectivo de reflectir sobre O capital em Karl Marx foi elaborado
este trabalho. Com o propósito específico de explicar o impacto que as consequências
do capitalismo causam à actualidade. Partiremos do estudo do capital, onde
veremos a questão da sua concepção, evolução e natureza, sabendo que do capital
surge e se sustenta o capitalismo. A reflexão sobre o capitalismo, é
caracterizado pela primazia da sua superação. Marx acreditava que o capitalismo
faz parte de um processo evolutivo do homem. Por consequência da evolução
histórica, o homem chegou ao modo de produção capitalista. Este seria superado
por um modo de produção sem classes exploradoras nem explorados. Onde não
haveria, ambição cega pelo capital, e as necessidades humanas e suas relações
sociais seria a base de desenvolvimento de todos membros da sociedade. Durante
toda vida, Marx lutou pela superação do capitalismo, e procurou mostrar com A +
B que o capitalismo é inimigo do povo, por identificar-se com a exploração.
Pelo que, deve ser superado por uma revolução onde o proletariado toma o poder
por via da luta de classes, que só termina com a destruição da classe burguesa.
Este sonho que alguns pensadores contemporâneos à Marx
consideravam utópico, veio a concretizar-se. Seu recado patente na obra
intitulada Manifesto Comunista foi
acatado, o proletariado uniu-se e criou uma potência que liderou todo bloco
comunista e enfrentou o capitalismo numa guerra tremenda e assustadora, que
divide o mundo em dois blocos, a famosa guerra fria. Engels afirma que Marx é o
maior pensador do seu tempo, e morreu cedo, antes de assistir com seus próprios
olhos a conquista dos seus ideais.
Mais seu sonho e de todos marxistas não foi duradouro.
Por variadíssimas razões o socialismo conheceu seu fracasso, e hoje ressurgem
por todo mundo os problemas criados pelo capitalismo que outrora Marx criticara.
Desta vez, de forma mais intensa, numa fase em que Mészáros chama de pós-capitalismo,
onde o metabolismo do capitalismo é assegurado pelo tripé capital, trabalho,
Estado. Na actualidade o Estado também funciona como um capitalista tal como
Marx outrora preverá. E tanto como o burguês o Estado já não se preocupa com as
necessidades básicas da sociedade, mas sim pelo acúmulo do capital,
investimento em infraestruturas que posteriormente garantam mais renda e mais
capital. O Estado foi tomado pelos burgueses e a sociedade para além da
exploração directa e aberta do homem pelo homem, corrupção, injustiças até nos
sectores provedores de justiça, crises financeiras e politicas; recebe também
das mãos capitalistas a segregação, desumanização ética, divisão de classes
sociais, destruição dos seus valores por efeito da globalização universalizante
dos valores do Ocidente com desculpas de modernização.
Estas consequências do capitalismo na actualidade são
sentidas em todos países de regime capitalista, sua base de produção é sempre a
mesma. Moçambique não poderia ser excepção deste fenómeno, pois é alinhado ao
regime capitalista. As qualidades e defeitos deste regime o acompanham. No
último capítulo deste trabalho reflectimos sobre a questão das consequências do
capitalismo para a actualidade moçambicana, trazendo alguns ideais de Samora
Machel por dois principais motivos: por ser um crítico do capitalismo, e
seguidor incontestável de Marx; porque o nosso País e a Universidade reflectem
rescignificando as ideias de Samora. Mészáros afirma ser um grave erro não refletir
sobre uma realidade só por deficiência de obras, pois a cada reflexão suscita
um debate, e a cada debate nota-se a potencialidade do problema e a necessidade
de intervenção, à este nível a questão das literaturas são ultrapassadas pela
necessidade de tentar resolver o problema.
Iremos imortalizar o debate levantado por Marx, não em
busca de um socialismo comunista, e sim de um melhor capitalismo, mais ético e
humano nas relações sociais. A busca incessante da verdade, do bem e do melhor
por via da crítica e reflexão é tarefa de todos filósofos.
Para elaboração deste
trabalho foram usados dois principais métodos e técnicas: Dedutivo, que
consiste em partir do universal para o particular; Hermenêutico, que consiste
na leitura e interpretação de textos. Técnicas tais como pesquisa bibliográfica
e consulta à internet.
Considerações
Finais
É
uma rara combinação de idealista e realista ao mesmo tempo. Resumindo, Samora
Machel é um dirigente de homens, um FILÓSOFO, um organizador e um administrador
– Kenneth Kaunda (NAM, Kok. Samora Machel. Maputo, Mediacoop SA, 2016).
Até aqui os filósofos estiveram interessados em
interpretar o mundo, o importante mesmo é transforma-lo, assim afirmou Karl
Marx. Com base no seu contesto histórico, buscou reflectir sobre os problemas
que ofuscavam a sociedade e o mundo, ele é defensor de uma filosofia da praxis que não se contenta pela
observação mas sim transformação do mundo, uma filosofia materialista histórica.
Actualmente partindo dos estudos elaborados por este autor podemos reflectir sobre
muitas realidades. Marx foi um autor verdadeiramente interdisciplinar com base
na sua filosofia.
O mundo vive um momento de elevadas transformações
sociais, causadas pelo impacto que o capitalismo cria naqueles países que adoptaram
este como seu regime. Marx vê o capitalismo como uma fase de produção que deve
ser superada por uma melhor e justa, mais humana e social. Não podemos fingir
mesmo aos nossos olhos que o capitalismo tem sido responsável por muitos males
que a sociedade moderna atravessa. A questão da ambição sem limites pelo
acumulo de capital, pela desumanização ética, por degradação de valores morais
pelos monetários, pela defesa do individualismo, eleições compradas,
segregacionismo e a divisão da sociedade em duas classes diametralmente opostas,
são males trazidos pelo capitalismo. Esta realidade não pode ser ignorada aos
nossos olhos, pois só com base na reflexão dela, podemos intervir de maneira
positiva na sua colmatação. Durante o trabalho dizemos e agora repetimos dizendo
que o capitalismo não apresenta apenas aspectos negativos na sua existência,
qualquer ideologia sustenta princípios positivos e negativos, mas temos que
adequar o útil ao agradável. Como filósofos, uma das nossas principais missões
é a busca incessante do melhor, da verdade do bem, não se contentando com a realidade,
e com base na crítica e reflexão trazer os problemas que demandam na sociedade
e tentar buscar sempre por melhores soluções e vias para resolução dos
problemas.
As consequências do capitalismo, são mais sentidas
pelas massas. Estas se sentem excluídas da esfera do desenvolvimento do mundo,
pois nota-se em sociedades modernas, os burgueses ou donos dos meios de produção
tal como chamava Marx, criarem políticas segregacionistas, habitando em um
espaço único (nos centros urbanos, em grandes condomínios, vivendas, levando
uma vida super luxuosa e de ostentação) e sem interferências das massas que
vivem na mesma cidade (nos subúrbios em condições precárias e miseráveis, em
condições de extrema pobreza). E são estas massas que preenchem as empresas dos
capitalistas, em busca da sua sobrevivência, vendendo a única coisa que
herdaram da mãe natureza, a sua força de trabalho, e o capitalista em troca
disso cria condições de trabalho péssimas, que parte de uma remuneração
insignificante em relação ao real valor que o trabalhador merece, e em troca
disso vai aumentando e crescendo seu capital enquanto o proletariado se torna
mais pobre.
A perda de valores éticos, morais e culturais causadas
pelos efeitos universalizantes da globalização, trazem consigo princípios,
cultura e instituições ocidentais que ofuscam a cultura dos povos não
ocidentais. O Ocidente traz o argumento do modernismo como condição de
desenvolvimento dos povos não europeus ou não ocidentais, confundindo a modernidade
com a cultura ocidental. Huntington afirma ser possível a modernização das sociedades
sem no entanto seguirem os princípios e valores do Ocidente.
Por via da revolução, Marx acreditava superar as
querelas que o capitalismo criava nas sociedades, não sugerimos uma revolução
igual a de Marx, mas um reparo urgente do capitalismo sanguinário, que a cada
passo do seu desenvolvimento, ofusca e explora mais a sociedade. Actualmente o
capitalismo ganhou a questão que outrora Marx prevera, que é a da ligação dos burgueses
às políticas do Estado, que também tornou-se um burguês, igual ao burguês o
Estado também tem necessidades de acúmulo de capital, como base no investimento
em infraestruturas que possam garantir mais impostos e mais investimento
nacional e internacional, e também com base na exploração dos recursos naturais,
tudo isto em detrimento de satisfação das áreas sociais como educação de
qualidade, saúde, combate à pobreza extrema e bem-estar dos seus cidadãos.
Moçambique não se isola nesta questão. Vivemos hoje
por consequência do capitalismo uma realidade que não é nossa, uma ética
imbuída da cultura do ocidente, mostramos nesta pesquisa, que as consequências
do capitalismo estão e são visíveis para quem as quer ver. Hoje ressuscitar
Samora Machel, creio que voltaria a morrer por um ataque cardíaco, depois de
olhar para o caos que o país se tornou nas mãos dos capitalistas em sua
ausência, capitalistas que ele sempre combateu. Não chamo aqui um socialismo
comunista, pois este demonstrou, não chamo aqui um outro ou novo regime pois não
tenho noção de qual ou como será. Samora não olhava cegamente para a URSS,
China, Cuba ou outro País do bloco socialista, o mesmo demonstra quando pediu
apoio financeiro em Washington, para fazer face a crise que na altura o País
enfrentava. Quando perguntado em entrevista televisiva com as seguintes
palavras: Senhor Presidente, o que te
leva ao território americano, sabendo que é comunista? Samora de forma
audaz e carismática respondeu: Pensa que
a União Soviética é meu patrão em Moçambique? Pensa que quero mudar esse patrão
por Washington?... não vim aqui (EUA) trocar nada, porque não tenho patrão, o
meu patrão é meu povo, não quero mais nenhum.
Samora sempre colocou os interesses do seu povo em
frente de qualquer ideologia, ou regime, o que Moçambique precisa não é um
presidente mais alto ou mais baixo, mas sim, Um presidente que esteja com os moçambicanos, e sinta o que os
moçambicanos sentem.
As consequências do capitalismo estão claras em
Moçambique, está mais do que na hora de lutar pelo nosso bem-estar. Isso começa
pela promoção daquilo que é nosso, só assim desenvolveremos a identidade
moçambicana. Os capitalistas, estão preocupados em atingir seu objectivo
principal “aumento do capital”. Moçambique não precisa de presidente, mas sim
de um líder, que promova a cultura, que combata radicalmente a corrupção e
pobreza absoluta, a injustiça no sector da administração da justiça, um líder
severo para impor no caos que vivemos e libertar o povo das amarras culturais globalizantes
do ocidente, um líder que primeiro toma as aspirações do seu povo muito antes
dos interesses individuais e capitalistas.
O mundo capitalista actual necessita urgentemente de
um reparo, o capitalismo do ocidente está avariado, ou seja, não se coaduna com
os anseios sociais, a democracia em muitos casos é demagógica até em
Moçambique, e a liberdade de imprensa não passa de farsa. Vamos traçar
políticas de melhoramento do capitalismo para a criação de uma sociedade mais
ética, justa, de compaixão e amor pelo próximo Resinificando as Utopias Samorianas.
Alguns dizem que é impossível, outros ainda, possível,
tudo aquilo que o homem cria por ele pode ser controlado e corrigido na maioria
das vezes, o que o mundo precisa é de uma modernidade, onde cada sociedade se
auto afirma com base na sua cultura, nos seus valores e princípios, o que a
modernidade precisa e de um capitalismo mais ético e humano. Pode parecer uma
ideia utópica, mas lembrem-se, quando Marx desenhou o socialismo, muitos contemporâneos
seus disseram que não passava de uma utopia, no sentido de não implementação,
mas a história nos provou o contrário, mesmo que não tenha sido do jeito por
ele esperado e traçado. Vamos transformar o mundo com base na crítica e na
reflexão, buscando incessantemente a verdade, o bem e o melhor.
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